Folha de S. Paulo


Atração do Pitchfork Festival, Parquet Courts surpreende com dualidades

O grupo americano Parquet Courts caminha fora da curva dentro da música independente. Isso fica muito claro ao ouvir a banda, seja em disco ou mesmo na performance ao vivo, como foi a desta quarta (26) à noite no La Laiterie, em Estrasburgo, cidade que na história foi ora francesa, ora alemã, e agora definitivamente tem a primeira nacionalidade.

O Parquet Courts, ele mesmo, é ora de Austin (Texas), ora do Brooklyn (bairro da cidade de Nova York), duas das regiões mais prolíficas para os sons independentes americanos hoje. O quarteto, relativamente novo (seu primeiro álbum, que quase ninguém viu lançar, é de 2011) traz as inquietudes boas dos dois lugares. São o indie do indie.

O La Laiterie, em Estrasburgo, é um espaço de shows com dois palcos distintos: o Clube e a Grande Sala. O Parquet Courts tocou no primeiro. No mesmo horário, para públicos diferentes, no outro salão estava se apresentando a veteraníssima banda inglesa New Model Army, sucesso roqueiro dos anos 1980.

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Banda de rock Parquet Courts (Divulgação) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
A banda nova-iorquina Parquet Courts, que se apresenta no Pitchfork Festival Paris nesta quinta (27)

"Queria avisar, para quem pode ter se confundido, que nós somos o Parquet Courts. O New Model Army está tocando aqui ao lado. Ainda há tempo para ir até lá", avisou, com tom de brincadeira, o guitarrista Austin Brown. "Somos de épocas diferentes, embora sejamos parecidos fisicamente."

A piada de Brown pode ter lá sua graça, mas entrega também uma verdade. Com cinco anos de estrada, o Parquet Courts parece veterano em ação. Principalmente ao vivo.

Se o grupo fosse dos anos 1960, por exemplo, certamente seria tido como "transgressor", numa linha Velvet Underground de ser. Com cinco discos lançados, dois EPs, às vezes com um nome diferente e outros projetos, às vezes dois álbuns no mesmo ano, o Parquet Courts tem a premissa, parece, de botar barulho onde não cabe barulho e de acalmar tudo quando o que sua audiência mais quer é pular e gritar junto.

Seu outro guitarrista, Andrew Savage, faz um excelente duelo de guitarras com Brown. O duelo se dá também na voz, porque tanto Andrew quanto Austin cantam cada qual sua parte do show, ambos também ótimos no vocal. Parecem bandas diferentes, quando um ou outro assume o microfone. São dois grandes shows ao preço de um.

A abertura que a internet gerou, no caso particular da música independente, possibilita que uma banda nova e alternativa americana da "altura" do Parquet Courts com divulgação bem relativa em rádios e nada em televisão tenha fiéis seguidores até no interior da França. A gritaria para a banda voltar para o bis foi empolgante. Mas eles não voltaram.

Talvez o Parquet Courts tivesse que descansar para viajar a Paris e tocar no fim de tarde desta quinta-feira (27) no Pitchfork Festival, evento mais voltado para a vanguarda eletrônica, sem jamais deixar as novas tendências do indie rock de fora.

E, neste papel de vanguarda, nada mais apropriado hoje do que escalar o Parquet Courts.

O jornalista Lúcio Ribeiro viaja pela Europa à convite da Air France.

Show da banda americana Parquet Courts no La Laiterie (club), na cidade de Estrasburgo, na França


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