Folha de S. Paulo


crítica

Filme de Michael Moore ameaça, mas não consegue provocar

AP
O cineasta Michael Moore
O cineasta Michael Moore

Michael Moore, o documentarista vencedor do Oscar por "Tiros em Columbine", decidiu seguir a mesma rota trilhada por Beyoncé, em abril, com o CD "Lemonade": lançar um projeto-surpresa.

Na noite de segunda (17), ele tuitou a estreia do filme "Michael Moore in TrumpLand" (na terra de Trump), que entrou em cartaz dois dias depois em cinemas dos EUA (e no iTunes) sem qualquer publicidade.

Produzido, escrito, rodado e editado em apenas 11 dias de outubro, "TrumpLand" é um stand-up que Moore fez por duas noites num teatro de Wilmington, em Ohio. A pressa da produção é sentida: nem todas as piadas funcionam, e a direção é ruim.

Por ter o nome de Donald Trump –candidato republicano à presidência dos EUA– em seu título, o filme promete ser incendiário. Mas a marca registrada dos documentários de Moore, a provocação, está ausente.

O foco é criar uma carta de amor à oponente de Trump, a democrata Hillary Clinton. A limonada começa azeda, chamando o candidato de "coquetel molotov humano" que, se eleito, será "o maior 'foda-se' já registrado nas urnas americanas".

Depois disso, o filme vai ficando açucarado, ao defender Hillary das acusações usadas por seus detratores, como o fato de ela ser desonesta, sua simpatia por Wall Street e o fiasco em Benghazi (o caso dos e-mails confidenciais vazados não é citado).

Moore diz que nunca votou nela, mas que mantém longa admiração pela candidata, principalmente pela luta dela, enquanto primeira-dama, por um projeto de reestruturação do sistema nacional de saúde, rejeitado pelo congresso em 1993, deixando-a "bastante humilhada".

O cineasta chega a compará-la ao papa Francisco, dizendo que ele surpreendeu ao se tornar um líder católico vigoroso e progressista, perdoando gays, lésbicas e ateus e criticando o capitalismo.

Moore acredita que, caso Hillary seja eleita, o início do governo dela será um pega para capar como a gestão de Franklin Roosevelt (1933-1945) –que, em seus cem primeiros dias, assinou várias ordens executivas, passando por cima do Congresso.

Entre as leis iniciais "sonhadas" por Moore estão anistia total aos imigrantes ilegais e o indiciamento de todos os policiais que mataram homens negros desarmados.

Moore termina sua palestra pró-Hillary declarando sua própria candidatura para a eleição de 2020.

Em seu governo, o cineasta promete que, a cada sexta-feira, carteiros vão entregar maconha à população. "Todo americano merece dois baseados no fim de semana."

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MICHAEL MOORE IN TRUMPLAND
DIREÇÃO: Michael Moore
PRODUÇÃO EUA, 2016
QUANTO US$4,99 (R$ 16) na iTunes Store americana
AVALIAÇÃO regular


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