Folha de S. Paulo


No Dia da MPB, saiba mais sobre Chiquinha Gonzaga, pioneira da música nacional

Desde 2012, o Dia Nacional da Música Popular Brasileira tem dia fixo no calendário: 17 de outubro.

A data foi criada pela ex-presidente Dilma e foi escolhida por ser o aniversário de nascimento da primeira compositora popular brasileira: Chiquinha Gonzaga.

Chiquinha Gonzaga, a mulher ousada que sacudiu o Rio de Janeiro na segunda metade do século 19 com sua música, atendia pelo nome de Francisca Edwiges Neves Gonzaga. Nasceu em nasceu 1847 e é dela a música "Ó Abre Alas", que se tornou um hino do carnaval brasileiro. Era filha do rico militar José Basileu Neves Gonzaga e de Rosa Maria de Lima Gonzaga.

Suas músicas misturavam ritmos como o tango, o choro e a marcha e transitavam entre o erudito e o popular.

Sua passagem pela música nacional é também um marco na história das mulheres do país. Feminista, Chiquinha desafiou e transgrediu muitos costumes machistas na época em que viveu, e, ainda mais, é atualmente tida como uma das maiores compositoras e instrumentistas da música brasileira. Sua obra tem mais de 2000 composições.

Casou-se aos 13 anos com o oficial de marinha mercante Jacinto Ribeiro do Amaral, o qual nunca aceitou que sua esposa fosse a rodas boêmias, fato que tornou o casamento, imposto pelo pai de Chiquinha, rápido e cheio de brigas.

Aos 18 anos, Chiquinha deixou o marido e saiu de casa. Desfeito o casamento, ela se apaixonou por um engenheiro de estradas de ferro e os dois passaram a viver juntos, enquanto ele construía a estrada de ferro da Serra da Mantiqueira. Quando a construção acabou e eles voltaram ao Rio de Janeiro, o confronto com uma sociedade que os conhecia e os condenava fez a relação durar pouco tempo.

Sozinha, deu aulas de piano para sustentar os filhos. Conheceu então o flautista Antônio da Silva Calado, que a introduziu nas festas e rodas de chorões. Num desses encontros com os músicos boêmios do Rio, em 1877, ela compôs, de improviso, a polca "Atraente", seu primeiro grande sucesso.

Foi também nesse período que Chiquinha Gonzaga, desejando entrar no teatro, musicou o libreto de Artur Azevedo "Viagem ao Parnaso", o qual foi recusado por vários empresários de teatro por ter sido feito por uma autora, uma mulher. Mas isso não a fez desistir. Escreveu e musicou a peça em um ato "Festa de São João", em 1883.

Chiquinha participava ativamente do movimento pela libertação dos escravos. Vendia de porta em porta suas partituras a fim de angariar fundos para a Confederação Libertadora (organização antiescravista). Com o dinheiro que conseguiu ao vender a partitura de sua música "Caramuru", Chiquinha Gonzaga comprou, em 1888, a alforria do escravo e músico José Flauta, antecipando-se poucos meses à Lei Áurea. Foi também uma participante ativa da campanha pela proclamação da República.

Teve problemas com o governo, afrontou muitas "opiniões" maldosas que a sociedade tinha a seu respeito e foi considerada subversiva.

Tudo isso a custa de sua genialidade e de seu espírito libertário. Foi ela quem pela primeira vez promoveu concertos em teatros onde não era permitido a apresentação de instrumentos como o violão. Chiquinha foi uma das pessoas responsáveis pela nacionalização da música brasileira num tempo em que tudo vinha da Europa

Morreu aos 87 anos, numa quinta-feira véspera de Carnaval, em meio aos preparativos para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

*Fontes: Acervo Folha e Almanaque Folha


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