Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Italiano controla chantagem emocional com riscos

Divulgação
A atriz Olga Kurylenko em cena de 'Lembranças de um Amor Eterno'; ela é Amy Ryan no filme de Giuseppe Tornatore
A atriz Olga Kurylenko em cena de 'Lembranças de um Amor Eterno'; ela é Amy Ryan no filme de Giuseppe Tornatore

Histórias românticas maiores que a vida circulam por aí desde que o mundo existe. A dificuldade maior é fazê-las surpreender. "Lembranças de um Amor Eterno", filme mais recente de Giuseppe Tornatore, tenta renovar a tradição extrapolando o improvável e criando um romance que mistura tecnologias contemporâneas ao fascínio pela infinitude.

O diretor italiano que conquistou o mundo com "Cinema Paradiso" nunca mais conseguiu reproduzir seu maior sucesso. A assinatura continuou atraindo fãs de primeira hora, mas também tornou mais evidentes as fragilidades de um cinema que se apoia demais no sentimentalismo.

O título "Lembranças de um Amor Eterno" sugere um daqueles derramamentos enjoativos que deram fama a Franco Zefirelli no passado, mas Tornatore afirma seu talento ao controlar um material cheio de riscos.

A trama reúne Amy, jovem estudante que trabalha como dublê em filmes, e Ed, astrofísico mais maduro que ela. Como ele é casado, a paixão é vivida à distância, por meio de conversas virtuais, cartões e mimos que ele envia quase diariamente.

Essa ausência logo se transforma em sentimento de vazio e perda quando um fato maior impõe o fim do caso.

Mesmo quando apela para as lágrimas, Tornatore não deixa de dar atenção aos efeitos que a tecnologia vem produzindo nos afetos. Em vez de se entregar ao lamento nostálgico pelo que deixou de existir, o realizador explora o artifício para prolongar sua história com outros meios.

Ao dar vazão à fantasia, Tornatore diminui a dependência que seu cinema tem da chantagem emocional. O resultado não chega a ser brilhante, mas dá para assistir sem conferir o relógio a cada cinco minutos.

LEMBRANÇAS DE UM AMOR ETERNO
DIREÇÃO: GIUSEPPE TORNATORE
ELENCO: JEREMY IRONS, OLGA KURYLENKO E SIMON JOHNS
PRODUÇÃO: ITÁLIA, 2016, 12 ANOS
QUANDO: EM CARTAZ


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