O ritmo é uma espécie de reserva emocional da música brasileira. É a ele que dois apaixonados podem recorrer quando sentirem seu amor em perigo. É uma espécie de emergência, uma UTI –porque sua especialidade é o coração.
Essas são definições de Ruy Castro para o samba-canção, ritmo que existe desde as primeiras décadas do samba e cuja história ele contou no livro "A Noite do Meu Bem" (Companhia das Letras), lançado no fim do ano passado.
Agora o pesquisador, escritor e colunista da Folha traz essa história para o rádio. Ruy estreia um programa, com o mesmo nome do livro, na Rádio MEC, com roteiro da jornalista e escritora Heloisa Seixas.
| Mauro Pimentel - 11.nov.2015/Folhapress | ||
 |
||
| O jornalista e pesquisador Ruy Castro, em seu apartamento no Rio de Janeiro |
Os seis episódios semanais irão ao ar a partir deste domingo (25), às 20h, na frequência FM 99,3 (só no Rio) e às 22h, na AM 800 (em todo o Brasil).
Também será possível ouvi-los no site mecfm.ebc.com, onde ficarão disponíveis para os retardatários.
"A série é sem entrevistas e sem conversa fiada, a não ser as minhas falas, contando histórias e ligando as músicas. Os programas serão um maravilhoso vitrolão", diz Ruy.
Se o samba-canção andou adormecido, como o pesquisador brinca logo na abertura do primeiro programa, é possível vê-lo despertar de seu sono nas gravações originais ou nas mais famosas.
Na estreia, haverá"Meu Nome é Ninguém", com Miltinho; "Ouça", com Maysa; e "Se É por Falta de Adeus", com Doris Monteiro.
A surpresa fica com "Não Tem Solução" (Dorival Caymmi e Carlinhos Guinle) cantada por Tereza Souza Campos, socialite cujos dotes no gogó são pouco conhecidos.
"Você sabia que ela, se quisesse, poderia ter sido uma grande cantora, e não apenas a maior grã-fina do Brasil? Essas revelações acontecerão em toda a série."
A cada episódio, um tema: cantores, dor de cotovelo, o glamour das noites macias. Nas ondas do rádio vão aparecer nomes como Dorival Caymmi, Maysa, Jamelão, Dolores Duran e muitos outros.
"O patrimônio musical do samba-canção é monumental, e suas melodias e harmonias são sofisticadíssimas."
Não é a primeira vez que Ruy trabalha para o rádio. Nos anos 1980, escrevia e produzia programas sobre música americana na Eldorado, mas não podia narrá-los. O diretor artístico dizia que ele não tinha voz.