Folha de S. Paulo


Relatório detalha análise de polêmica classificação indicativa de 'Aquarius'

"Aquarius", filme de Kleber Mendonça Filho, entrou em cartaz nos cinemas em setembro com uma classificação indicativa de 16 anos, após a distribuidora Vitrine Filmes recorrer de uma determinação do Ministério da Justiça que o contra-indicava a menores de 18 anos.

À época, a Folha pediu ao ministério uma cópia do relatório com as observações técnicas, que foi recebida nesta quarta-feira (21) via Lei de Acesso à Informação.

De acordo com o documento, o filme "não apresenta conteúdo relevante relacionado a violência", sendo as cenas de sexo o principal motivo que levou à censura etária máxima.

O teor da produção foi agravado por momentos em que os personagens consomem drogas lícitas, "especialmente álcool", e ilícitas, contendo "descrição verbal do tráfico".

O relatório descreve basicamente as cenas de sexo grupal e oral, que mostram partes íntimas dos personagens, e de consumo de drogas.

"Levando-se em consideração a intensidade das cenas de sexo, sendo que, em muitas delas, o ato é apresentado de maneira explícita, conjugado com a nudez agravada por composição de cena, sugere-se a classificação da obra como 'não recomendado para menores de 18 anos'", cravaram os técnicos.

ENTENDA O CASO

Em 12 de agosto, o ministério publicou no "Diário Oficial da União" a censura etária máxima pois havia "sexo explícito e drogas".

A decisão gerou polêmica. Isso porque há, em "Aquarius", cenas de sexo e nudez, mas filmes muito mais explícitos, como "Tatuagem" (2013) e "Boi Neon" (2015), ganharam classificação de 16 anos.

No recurso, os produtores defenderam que 16 anos seria "mais adequado para um filme que já tem garantido o seu forte valor cultural".

Em 1º de setembro, dia em que o filme entrou em cartaz em 85 salas do país, o Ministério da Justiça voltou atrás da decisão e reduziu a classificação indicativa do filme "Aquarius" para impróprio para menores de 16 anos.

O caso gerou controvérsia no meio cinematográfico sob suspeitas de que "Aquarius" estava sofrendo perseguições por parte do governo Temer, já que a equipe do filme fez um protesto contra o impeachment de Dilma na exibição do filme no Festival de Cannes, em maio.

O filme também era um dos que disputavam uma indicação do governo a uma possível vaga ao Oscar.

A comissão responsável por escolher o representante brasileiro contou com Marcos Petrucelli, notório crítico do longa de Mendonça Filho desde a manifestação do elenco no festival francês.

O escolhido foi "Pequeno Segredo", de David Schürmann. Sobre o assunto, o diretor de "Aquarius" alegou ter havido retaliação ao filme.


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