Folha de S. Paulo


Em Londres, Bienal de Design exibe utopias contemporâneas

Como será e que cara terá o futuro? Novos mundos, entre sonhos, propostas, poesia e história estão numa mostra internacional inspirada pela celebração dos 500 anos da publicação do clássico "Utopia", de Thomas More (1516).

A Bienal de Design de Londres, em sua primeira edição, reúne projetos, instalações, performances, esculturas, espaços imersivos, fotos, documentos e objetos de 37 países e traz vislumbres do futuro próximo, indicando o papel do design na construção de novos modos de vida. A mostra começou na última quarta (7) e vai até dia 27.

O diretor da Bienal, Christopher Turner, considera que a mostra proporciona um passeio inspirador, servindo tanto para entreter os visitantes como para provocar o debate. Turner sublinha o que chama de poder inato de design como catalisador, por provocar mudanças reais, sugerir futuros ou advertir sobre riscos que se anunciam.

O futuro das cidades e as mazelas da poluição, da escassez de água, das migrações em massa são temas recorrentes das representações nacionais.

A energia eólica é o tema de "Forecast" (Previsão), instalação de 14 metros de altura que representa a Grã-Bretanha, criada pelos designers Edward Barber e Jay Osgerby. Movidas pelo vento, as pás evocam a história das navegações e o aproveitamento desejável das energias renováveis. O projeto mexicano de Fernando Romero propõe uma cidade binacional na fronteira dos Estados Unidos e do México como modelo a adotar para cidades com altas taxas de migração. O designer australiano Brodie Neill propõe o uso das cinco trilhões de itens de plástico que poluem os oceanos do mundo.

Mas há também flashs delirantes, como o sonho de fraternidade entre humanos e animais apresentado pelo sul-africano Porky Hefer. Hefer traz para a mostra alguns dos seus objetos já exibidos na mostra "Monstera Deliciosa". São estruturas pendentes em couro imitando corpos de animais ferozes com bocas abertas que servem como ninhos confortáveis e macios para sentar ou deitar.

Entre os espaços para reflexão sobre utopias antigas está a participação chilena de "The Counterculture Room" (A sala da contracultura). Ela materializa, em escala natural e em impressão digital, o cenário da sala de controle de um projeto elaborado pelo governo de Salvador Allende (1971-1973) de gestão de informação em tempo real.

Precursor da ideia das cidades inteligentes, o projeto se chamava Cybersyn e pretendia munir o governo de dados e verificar desempenhos de vários setores da economia, para servir de apoio às decisões. Previa a auto-regulação das fábricas, dando poder de decisão para os trabalhadores.

Os visitantes podem votar para escolher o melhor projeto, de 7 a 19 de setembro e o escolhido será anunciado em 22 de setembro. Um júri internacional formado por 12 nomes de referência na crítica e na promoção do design vai escolher três projetos para premiar. O júri é formado por Paola Antonelli, Ian Callum, James Lingwood, Jeremy Myerson, Jonathan Reekie, Martin Roth, Victor Lo, Ana Elena Mallet, Kayoko Ota, Richard Rogers, Paula Scher e a crítica brasileira Adélia Borges.

Dentro da programação de palestras, Borges vai falar, no dia 9, sobre o tema "Design by the Other 90%", mostrando exemplos de objetos produzidos por pessoas para o seu dia - dia em cidades latino-americanas, com soluções simples, e a releitura desse design vernacular por designers eruditos.

A Bienal de Design de Londres é um dos eventos do centro cultural abrigado na Somerset House para a celebração dos 500 anos da obra de Morus, a UTOPIA 2016.


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