Folha de S. Paulo


Encrenqueiro profissional, Mel Gibson volta à cena como ator e diretor

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CENA DE Heranca de sangue [Blood fathers, Estados Unidos, 2015], de Jean-François Richet (California Filmes). Gênero: ação. Elenco: Mel Gibson, Elisabeth Röhm, Thomas Mann ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O ator Mel Gibson em cena de "Herança de Sangue"

Aos 60 anos, Mel Gibson sabe que errou. Outrora um dos astros de ação mais importantes do cinema e diretor oscarizado por "Coração Valente" (1995), ele foi preso dirigindo alcoolizado em 2006. Atacou os policiais com insultos antissemitas. Teve a vida exposta com vazamentos do áudio das brigas com a mulher, a cantora russa Oksana Grigorieva.

"Não me lembro de nada do passado...", diz Gibson à Folha. "E talvez seja melhor assim mesmo."

Mas Hollywood lembra. E não tornou sua vida fácil. Nesta década, seus raros filmes como ator foram massacrados e há dez anos ele não conseguia dirigir uma produção. O castigo parece ter chegado ao fim.

O protagonista de "Mad Max" (1979) e "Máquina Mortífera" (1987) está de volta: não apenas estrela um novo filme de ação com "Herança de Sangue", que estreia nesta quinta (8) no Brasil depois de passar pelo Festival de Cannes, como assina a direção de "Hacksaw Ridge", drama de guerra aplaudido de pé no Festival de Veneza —e que deve chegar aqui no fim do ano.

Os dois longas servem como atos de redenção, algo que Hollywood adora ter em suas fileiras —que o diga Sean Penn, Mickey Rourke, Robert Downey Jr. etc.

RECONSTRUÇÃO

Em "Herança de Sangue", Gibson atua como um ex-condenado que tenta reconstruir a vida no meio do deserto, mas precisa rever isso quando a filha (Erin Moriarty) passa a ser perseguida por traficantes.

Trailer

"Gostei do personagem e da história. É um sujeito que pecou no passado, um criminoso que matou pessoas, vendeu drogas, foi para a prisão e é um péssimo pai, até decidir ser bom. Tem uma qualidade redentora da qual gosto", opina o ator.

"Nunca estive na prisão, apenas fui preso", conta. "Ah, foi apenas uma noite na cadeia", ri. "Não é como se tivesse passado a vida na prisão. Foi difícil por 12 horas. E era uma prisão em Los Angeles, não dá para comparar... Já pensou se fosse no México? As prisões ali são, digamos, incomuns..."

DIREÇÃO

Já "Hacksaw Ridge", um longa de guerra pacifista, recoloca Gibson na função em que mais ganhou prestigio, seja pela estatueta dourada, seja pelos milhões que seus longas renderam. Foi como diretor que ele se encontrou artisticamente.

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E foi como diretor que Hollywood o puniu. "Fui colocado na lista negra por dez anos", admite ele. "Mas as coisas estão mudando. Dez anos é muito tempo, mas vou te dizer uma coisa: não fique bêbado."

Não é fácil perguntar essas coisas para Gibson. Ele responde a questões complicadas com respostas curtas ("Está no livro, mas estou familiarizado com o processo", quando pergunto se o monólogo de abertura de "Herança de Sangue" nos Alcoólicos Anônimos foi inspirado na sua própria passagem pela reabilitação).

E responde questões simples com complexidade, caso da sua volta à direção: "Adorei fazer 'Hacksaw Ridge', mas foi uma realidade diferente. Precisei rodar um filme épico com ritmo e orçamento de televisão. E não desenvolvi o roteiro desde o início, não foi tudo nos meus termos. Mas esse é o jogo agora, porque nenhum estúdio quer gastar muito dinheiro a não ser com filmes de super-heróis".

Ele, que recusou fazer um papel em "Thor", da Marvel, conta que não é contra filmes de uniformizados coloridos ("Vi aquele com Downey. 'Homem de Ferro'? Gostei. E 'Guardiões da Galáxia', bem divertido"), mas não entende a cabeça dos executivos.

"Não quero detonar ninguém. Mas qualquer coisa que se fazia nos anos 1980 é mais emocionante que os longas nos cinemas hoje em dia", detona.


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