Folha de S. Paulo


Emissoras racham conta em atrações como 'MasterChef'

A mesa está posta para dois na final do "MasterChef". Tanto Band, nesta terça (23), quanto o Discovery Home & Health, na sexta (26), exibem a disputa entre os cozinheiros Bruna Chaves e Leonardo Young por R$ 150 mil, um carro e uma bolsa na escola de gastronomia Le Cordon Bleu, em Paris.

Cada um paga parte da conta –a Band, majoritária, ganha a primeira exibição. Como SBT e Record, o canal tem aberto mão da exclusividade sobre seus programas em nome da viabilidade financeira de suas inovações.

No último ano, as principais estreias das três emissoras foram parcerias com produtoras independentes e exibidas também por canais pagos.

Além do "MasterChef", a Band adota o modelo na competição musical "X-Factor" (estreia na próxima segunda, 29/8) e no seriado "Terminadores", ambos com a TNT.

O SBT divide o pão nos realities culinários "Bake Off Brasil", que termina no sábado (27), "Hell's Kitchen" e "BBQ Brasil" –todos no ar também pela Discovery. E na série "A Garota da Moto", que irá ao ar em outubro no Fox Life.

Na Record, o diário "Programa do Porchat", que estreia na quarta (24), irá ao ar no dia seguinte pelo TBS. O culinário "Batalha dos Cozinheiros", exibido nas noites de terça, está também no Discovery Home & Health.

O seriado "Mamonas Assassinas" seria assim. Além da parceria com a Fox, previa R$ 4 milhões do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), gerido pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Os recursos, porém, estão bloqueados até que a agência conclua a apuração sobre o suposto uso de uma empresa testa de ferro para captar os recursos públicos –por lei, a produtora Endemol não poderia utilizar o FSA por ser uma estrangeira. A Fox desistiu do projeto e a Record aguarda a decisão final da Ancine para seguir adiante.

Com a maior fatia de audiência e de faturamento publicitário no país, a Globo, por ora, restringe suas parcerias aos canais da Globosat. Por exemplo, a nova "Escolinha do Professor Raimundo", produzida com o Viva (e exibida antes na emissora fechada).

BONS NÚMEROS

Com os olhos grudados no celular, onde acompanhava em tempo real os índices de audiência, o diretor artístico do SBT Fernando Pelegio comemorava os números do primeiro episódio da série "A Garota da Moto", em junho.

Oscilando entre 11 e 12 pontos (cada ponto representa 197 mil espectadores no Ibope da Grande São Paulo), a estreia foi comemorada com um brinde de espumante
pela equipe. "Sem a Fox e a Mixer, não conseguiríamos", comentou o executivo à Folha.

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Christina Ubach será protagonista da série 'A Garota da Moto', exibida por SBT e Fox LifeDivulgação
Christina Ubach em foto de divulgação de 'A Garota da Moto', exibida por SBT e Fox Life

A produtora paulista Mixer conseguiu captar R$ 2,5 milhões no FSA para bancar a série –o restante foi dividido igualmente entre Fox e SBT.

"A Garota da Moto" terminou na semana passada com 14 pontos de audiência e uma nova temporada garantida.

"[A coprodução] não necessariamente barateia. Podemos aumentar o dinheiro na produção e, por consequência, a qualidade", disse Pelegio, por e-mail, na semana passada. "Se gastaríamos cem, vamos continuar a gastar os cem, mas a produção poderá dispor de mais dinheiro."

A nova lógica, segundo Mauro Garcia, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão, aproxima a TV nacional do "syndication" americano. Nos Estados Unidos, um mesmo programa é vendido para vários canais, com a condição de que seja veiculado em datas diferentes.

"Ao produtor, não interessa que o produto fique preso a um canal, mas que seja licenciado e faça a indústria girar", diz Garcia. "Com a publicidade na TV aberta e por assinatura, mais o dinheiro de merchandising, é possível viabilizar os produtos."

Monica Pimentel, vice-presidente de conteúdo da Discovery no Brasil, diz que há cinco anos seria impossível sentar à mesa com a TV aberta: "Os públicos eram muito diferentes. A TV aberta era muito mais popular e a paga, mais segmentada para o público das classes A e B." O crescimento da base de assinantes da TV paga (foi de 9,8 milhões lares em 2010 para 19 milhões em 2015) aproximou do paladar televisivo dos brasileiros, diz.

Diretor artístico da Record, Paulo Franco não vê disputa por um mesmo público, mas uma nova oportunidade de divulgação, já que "a grade dos canais abertos não permite espaço para reprises".

"MasterChef" é hoje a maior audiência da Band, com média de 6 pontos em São Paulo. O reality é reprisado às sextas no Discovery Home & Health, junto com o "Bake Off" e o "Batalha dos Cozinheiros" –os três garantiram a vice-liderança ao canal entre os concorrentes da TV paga no início de julho.


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