Folha de S. Paulo


Com Rodrigo Santoro, novo 'Ben-Hur' reforça mensagem cristã

Assista ao trailer de Ben-Hur

Jesus está voltando –aos cinemas. Desta vez, na pele do brasileiro Rodrigo Santoro, que interpreta o Messias em "Ben-Hur", remake do clássico hollywoodiano que estreia nesta quinta (18).

Com poucas falas, ele ainda é coadjuvante na jornada de Judah Ben-Hur (Jack Huston), nobre da Judeia que se torna escravo romano após ser traído pelo meio-irmão, Messala (Toby Kebbell), que serve ao Exército e se torna o braço direito de Pôncio Pilatos.

Porém, se no longa de 1959 Jesus não aparecia diretamente (no máximo sua silhueta), aqui suas aparições constroem todo o sentido de "Ben-Hur" e pontuam a transformação espiritual do herói.

O clímax permanece a cena da corrida de bigas, as carruagens romanas de rodas imensas conduzidas por cavalos. Nessa sequência, uma das mais famosas do cinema, Judah tenta derrotar Messala por vingança. O novo desfecho só ocorre depois da crucificação de Cristo, que causa uma epifania no herói.

Na sala de um hotel de luxo em São Paulo onde recebeu a imprensa brasileira, Jack Huston diz que o discurso "não é tanto religioso, mas de compaixão e redenção. De que o ser humano é mais capaz do amor do que do ódio".

"Jesus é uma ferramenta, e o cristianismo não existia como religião naquela época. É a jornada de um homem consigo mesmo", comenta o intérprete de Judah Ben-Hur.

Para o ator britânico, mais conhecido pelo seriado "Boardwalk Empire" (HBO), o longa propõe reflexões necessárias a estes tempos de intolerância, medo e ameaças de terrorismo. Rodrigo Santoro comunga com o colega: "Os tempos estão assustadores, nunca foi tão violento. Na época de Ben-Hur [Império Romano], era 'ou eu ou ele'. Agora, é 'nem eu nem ele'".

Nesse sentido, o brasileiro avalia que histórias épicas e religiosas, como "Ben-Hur", "são uma forma de conforto e até uma necessidade".

O épico religioso é também um lugar seguro para Hollywood. Dirigido pelo russo Timur Bekmambetov (seu filme mais conhecido é "Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros"), o novo "Ben-Hur" se inscreve em uma safra de grandes produções religiosas.

Como "Noé" (2014), de Darren Aronofsky, e "Êxodo: Deuses e Reis", de Ridley Scott. Ambos tiveram lucros razoáveis (respectivamente, US$ 363 mi e US$ 270 mi em todo o mundo) para orçamentos acima de US$ 120 milhões.

"Ben-Hur" não deve ter destino semelhante. A revista "The Hollywood Reporter" aposta numa "bilheteria sóbria" de US$ 14 a US$ 15 milhões para a estreia.

À imprensa americana, os produtores têm reforçado a mensagem, se não religiosa, espiritualizada do filme. "É uma história de perdão com o subtexto de Jesus", disse Mark Burnett, também produtor da série "A Bíblia", exibida no Brasil pela Record.

Eles apostam na audiência que desconhece o original. "Uma pesquisa nossa mostrou que apenas 20% o viram", ressalta Huston.

Só um milagre pode fazer o novo "Ben-Hur" superar o sucesso de 1959, na época recordista do Oscar com 11 estatuetas, incluindo melhor filme. "Você não refaz 'Titanic' porque acha que James Cameron não acertou ou porque há uma geração que não o viu", afirmou à revista "Variety" o especialista em análise de bilheterias Jeff Bock.


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