Folha de S. Paulo


CRÍTICA | FILME NA TV

Semana tem filmes com Al Pacino, Matt Damon e Denzel Washington

A programação de TV desta semana traz vencedores do Oscar –juntos, somam 7 estatuetas. Entre eles, estão os sucessos dos anos 1990 "Perfume de Mulher", estrelado por Al Pacino, e "Gênio Indomável", com Robin Williams e Matt Damon.

Mais antigos, o thriller "Tubarão", de Steven Spielberg, e a comédia dramática "A Festa de Babette", de Gabriel Axel, também serão exibidos.

Leia abaixo quais são os destaques desta semana, selecionados pelo crítico da Folha Inácio Araujo:

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Trailer de "Perfume de Mulher"

SEGUNDA (8)

Há mistérios na TV paga. Exemplo: por que "Perfume de Mulher" (1992, Studio Universal, 15h) passa com alguma frequência, enquanto o filme italiano que o inspirou, de mesmo título, feito em 1974, nunca passa?

A versão americana, de Martin Brest, não é nada nula e deu a Al Pacino o Oscar de melhor ator, como o militar da reserva que, tendo perdido a vista, não perdeu de modo algum o prazer da companhia feminina.

Intrigante é que o filme original vem de um cineasta de primeira linha, Dino Risi, com um ator consagrado, Vittorio Gassman. Não é asiático, nem nacional ou africano. Nada remoto. Vem de cinematografia universal.

Que digo eu? Será? Será que gerações mais recentes, no Brasil, ainda sabem quem é Gassman, ou Risi, ou cinema italiano? Será que canais pagos (e mais Netflix e tal) não fazem parte de uma campanha tipo "América para os americanos"? Porque coincidência não pode ser.

Trailer de "A Festa de Babette"

TERÇA (9)

Em "A Festa de Babette" (1987, TC Cult, 0h25), Stéphane Audran faz a francesa refugiada a quem irmãs dinamarquesas acolhem com boa vontade. Duas tristes irmãs, vítimas da rigidez de certo protestantismo nórdico.

Um dia, Babette, a francesa, ganha na loteria e, como agradecimento pela acolhida, promove um fantástico, interminável festim. Babette cozinha e serve.

O filme de Gabriel Axel é um tanto quadrado, admita-se. Mas a presença da magnífica Audran (então já ex-senhora de Claude Chabrol) faz diferença e enfatiza o que o filme tem de melhor: uma eufórica celebração da vida contra a morte, do prazer contra o pecado, da beleza contra a penitência.

Há ainda um aspecto a reter: sua atualidade. Não estamos num mundo cada vez mais gastronômico? Babette é uma celebração da arte culinária, a mais prestigiada do mundo contemporâneo.

Trailer de Superman 2

QUARTA (10)

Em relação ao primeiro "Superman" ou a qualquer outro Super-Homem, "Superman 2: A Aventura Continua" (1980, Cinemax, 22h55) parece pertencer a outro mundo. Talvez seja o mundo das HQs, pois Richard Lester parece ter instituído a leveza e a agilidade como pontos centrais do filme.

Na ação, o Super-Homem está tão caído por Lois Lane que três vilões de Krypton decidem que é hora de aproveitar a situação e atacar a Terra. No mais, o terrível Lex Luthor escapa da prisão e trata de ajudá-los.

O filme suscitou polêmica. O diretor do primeiro filme, Richard Donner, foi afastado. Houve quem se ressentisse. Etc. O essencial, no entanto, vem de Lester: não por acaso, o cara que, entre outros, sacou tão bem os Beatles (em "Os Reis do Ié-Ié-Ié" e "Help!").

Ainda hoje, no Curta! (21h e 1h), o belíssimo episódio dedicado ao belíssimo "O Desprezo", de Godard, na série "Filmes que Marcaram Época" (2013).

Trailer de "Gênio Indomável"

QUINTA (11)

O que mais atrai em "Gênio Indomável" (1997, TC Touch, 22h) é o caráter mágico das operações matemáticas, tal como as resolvidas por Matt Damon, o rebelde varredor de Harvard.

De repente lá está ele, embasbacando mestres, resolvendo um problema insolúvel, enchendo a lousa de sinais que para quase todos nós não significam nada.

O gênio e sua magia seduzem. O mau gênio do gênio por vezes aborrece. Que ele humilhe os alunos de Harvard, metidíssimos, deixa a qualquer um satisfeito. Mas quando entra o "especialista psíquico", na pessoa de Robin Williams, há o que temer.

Primeiro, pelo ator: quantas vezes o talento de Robin foi pelos ares por causa desses papéis de cara bonzinho e compreensivo. Depois pelo filme: domar o indomável com compreensão seria uma boa saída para o gênio ou para o filme? Não: ali ele se enfraquece.

Trailer de "Ela Volta na Quinta"

SEXTA (12)

Com "Ela Volta na Quinta" (2015 Canal Brasil, 15h35), André Novais Oliveira fez um verdadeiro filme-família: trabalha com seus pais e com o irmão. E tudo se passa em torno da crise conjugal do velho casal.

Talvez a deficiência do filme esteja no início: essa crise é colocada com tamanho tanto que custamos a perceber do que "Ela Volta". Passado esse momento de exposição talvez um pouco excessiva, as coisas se tornam claras e ágeis: o pai tem uma amante, a mãe vai fazer uma viagem tipo romaria, enquanto os filhos se preocupam...

O forte desse filme que chega de Minas é o olhar direto para as pessoas, a casa, o quintal, a rua, a cidade (Contagem). Paisagens raras nas imagens, porém triviais no dia a dia: assim como o cinema aproxima real e fictício, o prazer do encontro com esse mundo a um tempo complexo e banal é grande (embora ainda menor do que nos curtas do mesmo realizador).

Trailer de "O Gângster"

SÁBADO (13)

Há coisas bem atraentes em "O Gângster" (2007, FX, 22h). A primeira delas é que filmes policiais que incluem duelos entre duas mentes fortes sempre têm algo interessante. É o caso da batalha entre Frank Lucas e Richie Roberts.

E aqui temos o hábil traficante negro (Denzel Washington) às voltas com um tenaz policial (Russell Crowe). Encontro também entre dois atores de primeiríssima linha (em torno, no mais, de personagens com existência real).

Se nem tudo dá certo isso vem do fato de Ridley Scott dar a impressão de estar um tanto desinteressado do filme. Parece mais que quer levar o filme ao fim do que levá-lo a algum lugar.

Não sentimos nos dois antagonistas a grandeza que a história parece sugerir e que tornaria o filme muito particular. Ainda assim se deixa ver com facilidade.

Não tanto como "Jovem e Inocente" (1937, Futura, 2h30), um magnífico Hitchcock.

Trailer de "Tubarão"

DOMINGO (14)

Algumas coisas em "Tubarão" (1975, TC Cult, 19h40) são meio óbvias, como o prefeito da cidade balneária que tenta esconder a presença de um desses terríveis predadores em suas praias.

Mas essas coisas ajudam a compor essa aventura notavelmente talentosa, em que Steven Spielberg propõe a caça ao animal por dois especialistas rivais (o jovem cientista e o velho marinheiro com seus conhecimentos empíricos) e mais o xerife do local.

Existe um crescendo de terror controlado com maestria, pois aos poucos nos damos conta de que se trata de um monstro praticamente indestrutível. O espectador tem medo, claro. O mais notável, no entanto, é que quase nada acontece ao longo do filme, a não ser a precisa construção desse ambiente.

É em filmes assim, em que quase nada acontece, que se reconhece com mais facilidade o talento de um cineasta.


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