Folha de S. Paulo


Com ares de realismo fantástico, peça investiga a banalização da violência

Antonio Januzelli, o Janô, "parece uma figura na contramão do teatro", comenta o ator e diretor Rui Ricardo Diaz. "A gente vive no momento do teatro pós-dramático [em que os elementos cênicos, como luz e cenário, se sobrepõe às interpretações]. E ele aposta no homem e na possibilidade de revelar todas as camadas do ator."

Janô, pesquisador e diretor, é um dos nomes à frente da Cia do Sopro. Ali faz uso de seu Laboratório Dramático do Ator, no qual investe no trabalho do intérprete. As encenações surgem, assim, de inquietações internas dos atores.

Assim nasceu o primeiro trabalho da companhia: "A Hora e Vez" (2014), com atuação de Diaz, inspirado em "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa.

E os mesmos preceitos guiam a nova produção do grupo, "Como Todos os Atos Humanos", que estreia nesta quinta (4) em São Paulo.

O monólogo partiu de inquietações da atriz Fani Feldman. Ela reuniu textos que a acompanham há cerca de dez anos. Inspirou-se em Marina Colasanti, Nelson Coelho e Giorgio Manganelli, cujas obras alinhavam a dramaturgia escrita pela própria atriz durante o laboratório de Janô.

"É um processo lento, não tem uma preocupação com o tempo", conta Feldman, que começou a trabalhar na montagem há quase três anos.

A história tem um quê de realismo fantástico. Uma garota narra à plateia seu crime. Conta nunca ter se sentido à vontade na família ("desde o primeiro suspiro no mundo, eu percebi que eu não existia") e que um dia, friamente, decidiu matar o pai.

"A gente fala de uma naturalização da violência", afirma Diaz, diretor da montagem e marido de Feldman. "Também invertemos a questão: a violência é humana até que ponto?", continua a atriz.

Assim como "A Hora e Vez", a nova peça tem poucos elementos cênicos. Há uma estrutura no meio da cena, com a qual se mescla a saia usada pela atriz, e um trabalho de iluminação. Mas tudo é focado na atuação de Feldman, cujas expressões por vezes lembram as telas aflitivas de Francis Bacon ou os quadros expressionistas de Edvard Munch.

COMO TODOS OS ATOS HUMANOS
QUANDO qui. e sex., às 21h; até 26/8
ONDE Núcleo Experimental, r. Barra Funda, 637, tel. (11) 3259-0898
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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