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crítica | filme na tv

Semana tem do clássico 'Psicose' ao divertido 'Relatos Selvagens'

A programação de TV desta semana traz bons thrillers, como "A Vila", de M. Night Shyamalan, "O Sexto Sentido" e o clássico "Psicose", de Hitchcock.

Há ainda os contrastes dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne em "O Garoto da Bicicleta" e o divertido argentino "Relatos Selvagens".

Leia abaixo quais são os destaques desta semana, selecionados pelo crítico da Folha Inácio Araujo:

*

A Vila

segunda (1º)

É uma pena que o prestígio de M. Night Shyamalan tenha desaparecido tão rápido e, com ele, seus filmes: é um dos últimos cultores de um fantástico não infantilizado.

Quem pretenda ver ou rever "A Vila" (2004, TC Touch, 14h10, 14 anos) encontrará ali mistérios bem encantadores. A começar por essa sociedade utópica, composta de pessoas que, cansadas dos desacertos do mundo, isolam-se nessa cidadela cercada de perigos.

Sim, as imperfeições humanas são terríveis e incontáveis, mas o que dizer da perfeição? É por aí que Shyamalan conduz seu raciocínio neste filme: talvez ela seja mais sinistra do que o nosso imperfeito mundo.

Por falar em imperfeições, James Stewart é a demonstração perfeita delas, mas também da possibilidade de nos aperfeiçoarmos, em "Região do Ódio" (1954, TC Cult, 20h05, 14 anos), indispensável faroeste de Anthony Mann.

A Caça

terça (2)

Desde a manhã, a terça se anuncia um luxo nos Telecines. Tudo começa com "A Caça" (2012, 14 anos TC Cult, 10h40), de Thomas Vinterberg, no qual a preocupação quase maníaca a respeito da molestação infantil leva a um desses erros de julgamento catastróficos.

À tarde, o mesmo canal traz "A Marca da Maldade" (1958, 16 anos, TC Cult, 16h30), o melhor, mais fluente Orson Welles, em que as intrincadas relações entre falso e verdadeiro, real e ilusório, são objeto da disputa entre dois policiais.

À noite, será preciso escolher. Há "Mar Aberto" (2003, 12 anos, TC Action, 20h25), thriller angustiante sobre um casal que cai na água acidentalmente em alto mar. Filme do tipo bom e barato.

Por fim, o TC Touch entra com "Califórnia" (2015, 14 anos, 22h), promissora estreia de Marina Person na ficção de longa-metragem, em filme sobre o amadurecimento de uma adolescente dos anos 1980 em São Paulo.

O Sexto Sentido

quarta (3)

Há muita morte na quarta-feira, embora nem por isso os filmes do dia sejam ruins, longe disso. O mais misterioso deles é "O Sexto Sentido" (1999, 12 anos, TC Action, 16h), thriller de suspense que tem no centro um garoto assombrado pelo contato com os mortos e seu psicólogo.

Don Siegel já era mais que conhecido quando fez "O Último Pistoleiro" (1976, 12 anos, TC Cult, 14h30). O mesmo diga-se de seu ator, John Wayne. Neste faroeste crepuscular, ele é o atirador que chega a uma cidade para morrer —ele sofre de câncer. Original e forte.

De "Psicose" (1960, 14 anos, TC Cult, 22h) há pouco a dizer. Ou haveria muito —dá quase no mesmo: esta é uma obra-prima de Hitchcock seja pelo medo que transmite ao espectador, seja pelo inesperado desvio do roteiro (que começa com uma história e termina com outra), ou pela força das imagens de Hitchcock.

Para quem queira gravar, a reprise de "Região do Ódio" (1954, 14 anos, TC Cult), de Anthony Mann, começa às 2h15 de quinta (4).

O Garoto da Bicicleta

quinta (4)

Nos filmes dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, os personagens quase sempre estão numa encruzilhada proposta por outros. É o caso de "O Garoto da Bicicleta" (2011, 14 anos, Arte1, 16h), a quem encontramos deixado a horas tantas num orfanato e que buscará infatigavelmente pelo pai que o abandonou.

O ritmo do filme vem, de certa forma, do que há de nervoso, de indomável, no menino e em sua busca. Não é bem uma criança: tem 12 anos, momento em que compreende todas as coisas e tem tudo ainda para compreender do mundo. Equilíbrio, instabilidade, tensão: tudo parece concentrar-se em sua bicicleta.

O filme se prenderá em boa medida ao encontro do garoto com uma simpática cabeleireira, figura inesperadamente materna que surge em sua vida. Ainda assim, a tensão, a encruzilhada estarão lá. Acentuadas pelos contrastes a um tempo contidos e gritantes que os irmãos belgas impõem a seu filme.

Relatos Selvagens

sexta (5)

Não é por nada que o argentino "Relatos Selvagens" (2014, 14 anos, MaxPrime, 22h) fez o sucesso que fez, no Brasil e em boa parte do mundo. Damián Szifron captou, nos seis episódios de sua estreia no longa algo com que qualquer espectador pode se identificar facilmente: a raiva.

Ou, mais precisamente, esse momento em que perdemos o controle sobre nossos atos, em que não nos importa nem mesmo morrer, desde que possamos levar para o túmulo, junto, a pessoa que nos tirou do sério.

Talvez o melhor episódio, nesse sentido, seja o que envolve dois automobilistas em uma estrada. Ah, Szifron capta muito bem o quanto coisas insignificantes tornam-se enormes no trânsito. Ou antes: como as coisas do tráfego automobilístico acontecem, basicamente, num espaço mental. Mental, aqui, como sinônimo de insano.

Disso, tira-se um filme divertido: é bem mais do que nada.


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