Folha de S. Paulo


Antonio Prata coleciona agruras dos 30 e poucos em novo livro de crônicas

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Antonio Prata escreve na Folha desde dezembro de 2010, mas ler jornais tem se tornado algo irritante. Notícias recentes inspiram nele uma "sensação desesperadora de que o Brasil, que nunca esteve muito bem, agora está indo pelo ralo".

Se, por um lado, exaspera-se diante do noticiário, por outro sabe que seu papel ganha maior importância em tempos como estes. Acredita que a crônica –como as que publica aos domingos no caderno "Cotidiano"– é um gênero ideal "para quebrar a dureza e a tristeza da atualidade".

Marcus Leoni/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL. 26.07.16, 12H: Antonio Prata vai lancar novo livro de cronicas publicadas na Folha. (Foto: Marcus Leoni/Folhapress, ILUSTRADA) ****EXCLUSIVO FOLHA****
Antonio Prata em casa, com "Trinta e Poucos"

Prata acaba de lançar sua nova coletânea, "Trinta e Poucos", com mais de 70 textos publicados originalmente na Folha. São reflexões –entre o real e o ficcional– de dilemas de uma geração contemporânea ao escritor, hoje com 38 anos. É uma faixa etária nebulosa, quando a idade não representa muita coisa: o sujeito não é nem novo nem velho.

Como diz no texto-base de "Trinta e Quantos?": "Não sendo púbere nem gagá, tão todos no mesmo barco, uns com mais dor nas costas, outros com os dentes mais brancos, mas no mesmo barco, trabalhando, casando, separando e resmungando no Facebook".

Entre as preocupações características da idade estão os desafios de equilibrar vida profissional e família –sobretudo porque, aos trinta e poucos, a vida doméstica ganha mais protagonismo. "É uma mudança de cotidiano. Quando você tem filhos, sua vida é um quarto de bebês", comenta o pai de Olivia e Daniel.

Para além do lado familiar, Prata passeia por diversas searas: vai da derrota da seleção brasileira na semifinal da Copa de 2014 a pelos que teimam em nascer na orelha –sempre com humor que oscila entre o riso de canto de boca ao sorriso amarelo de vergonha alheia.

E há o riso que esconde o nó na garganta, como na crônica "Recordação", em que um taxista, no dia em que celebraria o aniversário de 25 anos de casamento, lamenta não ter fotos casuais de sua mulher, hoje morta.

O evento narrado ali não foi real. "'Recordação' começou com uma percepção de como nossos porta-retratos são falsos", diz Prata. "A pessoa coloca a exceção da vida dela nessas fotos: posa na neve, num barco... São situações em que a pessoa esteve uma vez na vida. Comecei a pensar: 'Que triste é uma pessoa morrer e você procurar fotos e não encontrar imagens da vida cotidiana'."

Trinta e Poucos
Antonio Prata
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Publicada em 2013, a crônica se popularizou nas redes sociais e se tornou um curta-metragem três meses depois, feito para a TV Folha."Fiquei superfeliz porque eu achava que só repercutiam crônica sobre PT, PSDB, maconha, aborto, Lei Rouanet... Essa fala de amor", diz.

TRINTA E POUCOS
AUTOR Antonio Prata
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34,90 (232 págs.)


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