Muitos documentários brasileiros recentes parecem deslocados quando exibidos em uma sala de cinema. Produtos claramente televisivos, costumam provocar (ao menos neste crítico) a terrível impressão: "puxa, na TV ele alcançaria muito mais pessoas, para que ocupar espaço no cinema?"
"Miller & Fried: As Origens do País do Futebol" tem um pé nesse grupo. Com participação da Globo Filmes, da GloboNews e da Olé Filmes, o longa por vezes assemelha-se a um enorme comercial de televisão. O outro pé o coloca em melhor posição no campo: a investigação sobre nosso passado.
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Em cena de "Miller & Fried: As Origens do País do Futebol", Paulistano enfrenta a França em 1925 |
Vemos o contexto em que viveram e jogaram Charles Miller (1874-1853), homem que trouxe o futebol da Inglaterra no final do século 19, e Arthur Friedenreich (1892-1969), nosso primeiro grande craque.
Dirigida por Luiz Ferraz, esta investigação sobre dois grandes homens pode assim encantar não só o fã do esporte em questão, mas também, e principalmente, quem tiver interesse em nossa história.
O filme começa com imagens atuais de São Paulo. Cenas de futebol amador em câmera lenta homenageiam esse esporte que se confunde com arte, e ao mesmo tempo evocam um aspecto publicitário, no qual a técnica transcende a estética cinematográfica.
Logo entram os entrevistados. O primeiro, Carlos Miller Junior, é neto de Charles Miller. Depois vêm Luiz Carlos Duarte, biógrafo de Friedenreich, os jornalistas Paulo Vinícius Coelho, Celso Unzelte e Marcelo Duarte, entre outros.
Como Miller e Fried são paulistanos da gema, o filme tem esse lado "futebol paulista", com pouco espaço para times de outros Estados, o que pode incomodar alguns.
Em certa altura, falam da rivalidade com o futebol carioca. Essa rivalidade, contam, seria a responsável pela não convocação de Friedenreich para a primeira Copa do Mundo, em 1930.
É uma entre várias histórias fascinantes que nos são contadas, enriquecidas por um precioso material de arquivo (sempre o melhor nesse tipo de filme).
"Miller & Fried" compensa seu jeitão de programa de TV pelo que mostra da história do Brasil. A maneira como o futebol permeia essa história é seu grande trunfo.