Folha de S. Paulo


Crítica

Retomada permite medir se Spielberg ainda desperta interesse

Não faz muito sentido reclamar que "O Bom Gigante Amigo" seja um retorno de Spielberg ao cinema infantil. Estranho seria que o diretor de "E.T." assumisse uma produção da Disney, adaptasse uma história de Roald Dahl, autor de livros infantis, e com isso realizasse um drama adulto.

Se a série de temas sérios a que o diretor vem se dedicando renovou sua criatividade e angariou respeitabilidade, retomar a fantasia permite medir o quanto Spielberg mantém de interesse para um público que era bebê quando ele fez "A.I.", em 2001, e pode ter achado "As Aventuras de Tintim" (2011) um filme velho.

Para não correr o risco de fazer um longa que encante os pais e entedie a meninada, Spielberg adapta uma história cheia de medos infantis eternos, um relato que em muitos momentos lembra Peter Pan, mito que percorre sua obra antes e depois de ele ter feito "Hook".

Temos uma menina sem pai nem mãe, que vive num orfanato e, como detesta aquela realidade, alimenta-se de histórias. Quando é raptada por um gigante, vai parar num lugar ameaçador e enfrenta um punhado de aventuras mirabolantes para se salvar.

O simbolismo evidente é o da perspectiva que a criança tem do mundo adulto, que na medida infantil é gigante. Mas há outro problema de escala também na figura do BGA, grande demais para pessoas de tamanho normal e "nanico" na terra de gigantes onde vive recluso. Trata-se, portanto, de um filme sobre a inadequação.

Algumas situações podem parecer um mix de "Os Goonies", que Spielberg produziu, com "Indiana Jones e o Templo da Perdição", que dirigiu, mas não se pode esquecer que esses filmes têm mais de trinta anos e que "O Bom Gigante Amigo" foi feito para quem tem menos de dez.

O BOM GIGANTE AMIGO
QUANDO: Em cartaz
CLASSIFICAÇÃO: Livre
ELENCO: Mark Rylance, Ruby Barnhill, Penelope Wilton
PRODUÇÃO: EUA, 2016
DIREÇÃO: Steven Spielberg


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