Folha de S. Paulo


Após hiato de 9 anos, saga 'Bourne' retorna com Greengrass e Matt Damon

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No 32º andar do hotel The Cosmopolitan, uma construção faraônica banhada em neon Las Vegas, está Paul Greengrass, 60, cineasta que mudou o ritmo dos filmes de ação hollywoodianos com "A Supremacia Bourne" (2004) e "O Ultimato Bourne" (2007).

O cenário não lhe cai bem. Criado no cinema documental, o inglês apareceu para o mundo com o chocante "Domingo Sangrento", dramatização do confronto entre protestantes da Irlanda do Norte e o exército inglês que ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim, em 2002.

Dois anos depois, assumiu o posto de diretor da franquia "Bourne" –após Doug Liman iniciá-la com "A Identidade Bourne"– e injetou na série assuntos pesados como manipulação corporativa, assassinatos governamentais e controle da mídia.

O cinema de Greengrass trafega no limiar do que é socialmente relevante e do entretenimento descarado. É assim que ele encara o cenário de Vegas para a volta do herói desmemoriado de Matt Damon em "Jason Bourne", que estreia no Brasil nesta quinta-feira (28), quase dez anos depois de declarar que nunca retornaria à saga.

Assim como Damon, o diretor ficou irritado com a atitude da Universal em seguir adiante com outro longa da série, "O Legado Bourne" (2012), com Jeremy Renner ("Os Vingadores") vivendo um agente sem relação com a criação do escritor Robert Ludlum (1927-2001).

O estúdio queria manter os direitos sobre os livros e promoveu o roteirista Tony Gilroy para a direção, mesmo sabendo que ele não se relacionava bem com Greengrass.

REVIRAVOLTA

O cenário começou a mudar cerca de dois anos atrás, quando Matt Damon e Christopher Rouse, montador oscarizado por "O Ultimato Bourne", começaram a insistir que ainda havia mais um filme a ser feito.

"Temos a sorte de ter um personagem que as pessoas adoram, mas isso não é motivo para fazer um filme", conta o diretor, que fez um acordo com Rouse, agora alçado a corroteirista.

A dupla começou a imaginar como Jason Bourne teria se comportado nesta década. "Ele agora sabe quem é, lembra-se de cada assassinato que cometeu. A culpa sobre seus ombros é insuportável. Bourne passou esses dez anos sofrendo fisicamente", diz o britânico.

É nesse estado que reencontramos Jason Bourne, na fronteira da Grécia com a Macedônia, onde ele ganha a vida como lutador no submundo.

"Esse limite pode ser ligado à insurgência popular que ocorre na Grécia. Era um país em ebulição com um personagem em ebulição."

"Jason Bourne" joga o protagonista no meio de um dos protestos mais insanos do cinema pop na tentativa de resgatar sua ex-colega Nicky (Julia Stiles) e escapar do assassino (Vincent Cassel) nas ruas tomadas de Atenas.

"O mundo mudou desde o último 'Bourne'. Estava interessado no que estava acontecendo nos movimentos de insurreição na Grécia, na Espanha, em Wall Street e no Brasil. Essa relação dos movimentos com a Primavera Árabe teve um grande impacto em mim, esses elementos se encaixavam na história."

Mas é em Las Vegas que se forma o pandemônio em que a CIA disputa com redes sociais, empresas de tecnologia e banqueiros para recrutar os melhores programadores.

Ali, Jason Bourne encontra novos personagens: uma ciberanalista (Alicia Vikander, de "A Garota Dinamarquesa") e o novo chefão da CIA, Robert Dewey (Tommy Lee Jones).

"Os filmes de espionagem dos anos 1950 tinham lugares charmosos, como Berlim e Viena. Hoje, temos uma convenção de tecnologia de espionagem em Las Vegas, onde podemos filmar uma cena incrível de perseguição de carros", conta Greengrass.

O jornalista viajou a convite da Universal


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