Folha de S. Paulo


Com 'A Hora da Venenosa', Record dá o bote na Globo e lidera em São Paulo

Pode uma cobra de pelúcia inocular veneno? Na Record, sim. Lá, o ofídio amarelo e cor-de-rosa Judite é o fantoche que escolta e faz piadas com Reinaldo Gottino, Fabíola Reipert e Renato Lombardi no quadro "A Hora da Venenosa", que há cinco meses derrota quase diariamente a Globo nas tardes da Grande São Paulo, principal praça de medição de audiência no país.

Tão logo Fabíola e Judite ocupam a bancada do telejornal "Balanço Geral", do qual "A Venenosa" ocupa os 45 minutos finais, o placar do Ibope começa a computar a favor da atração. São fofocas sobre celebridades, quase sempre do elenco global.

A reportagem acompanhou uma transmissão ao vivo nesta segunda (18). Às 14h15, a diretora Claudia Aied aproximou-se do microfone e anunciou: "Virou lá! Vamos para o caso do Diego Hypólito".

Crítica: Menina veneno demonstra dose excessiva de crueldade

"Lá" é a Globo. E "virou" significa o início do "Vídeo Show" –programa de variedades da Globo sobre os bastidores da emissora. Acima dos televisores nos quais Cláudia monitora a concorrência, outro aparelho atualiza minuto a minuto o Ibope. Naquele momento, era empate: 9,2 pontos (cada ponto equivale a 197,8 mil pessoas) cada um.

Fabíola debocha de um "pitizinho" ao vivo de Fausto Silva após o ginasta Diego Hypólito cancelar de última hora a participação no "Domingão". O sarcasmo abre um ponto de vantagem para a "Venenosa": 9,3 a 8,3.

ZOEIRA

Há dias em que a vantagem se alarga. Como na quinta (21), quando o trio venenoso venceu a dupla Susana Vieira e Miguel Falabella por 10,2 a 7,7, segundo a prévia do Ibope.

São dias em que Fabíola admite que vencer "fica mais divertido". Há um quê de revanche: Susana Vieira é um dos incontáveis inimigos célebres que já processaram a repórter. "Meu apelido é Cobríola, põe aí se quiser."

Na Justiça, Susana ganhou em 2013 direito de resposta no blog da apresentadora no "R7", site da emissora. Fabíola publicou que a atriz tinha dado chiclete mascado para a sua assessora num evento.

A "Cobríola" tem intimidade com advogados dos famosos. São dezenas de processos, de gente como Paola Olliveira (sugeriu um caso entre a atriz e um colega de novela), Luciano Huck (insinuou infidelidade entre ele e sua mulher, Angélica) ou Sophia Abrahão (por publicar que a atriz havia usado o ex-namorado, Fiuk, para conseguir um papel na Globo).

"Nenhum famoso gosta de ver seus podres expostos. Só querem que a gente elogie o bem-casado do casamento para que eles não precisem pagar pela festa", diz.

O êxito da "A Hora da Venenosa" é resultado da liga improvável entre Fabíola, 43, Reinaldo Gottino (39, ex-locutor e repórter com carreira no esporte) e Renato Lombardi (69, repórter policial vencedor do prêmio Esso em 1985).

Ao mostrar "o lado A e o lado B" das celebridades, como diz Fabíola, ou, como diz Gottino, traduzir "os assuntos da internet para a dona de casa", o trio ficou pop. Gottino ostenta quase um milhão de seguidores em seu perfil no Instagram, marca já alcançada pela colega de bancada. O antes sisudo Lombardi virou Lombi, já palpita em notícias sobre Lady Gaga e tem 170 mil fãs em sua página no Facebook.

Juntos, riem dos famosos com o mesmo desembaraço com que tiram sarro de si mesmos –uma irreverência que chegou a acontecer no "Vídeo Show", quando Otaviano Costa e Mônica Iozzi dividiam a bancada (e "A Hora da Venenosa" também vencia).

A química alheia é elogiada até mesmo na Globo. Nos bastidores, as derrotas para a Record em São Paulo são reconhecidas, com ressalvas. O "Balanço Geral" é regional –tem outros apresentadores em outros Estados– e a emissora carioca trata o assunto como caso isolado de São Paulo.

Isolado ou não, o "Vídeo Show", que é nacional, tem passado por mudanças nos últimos meses: a bancada recebeu diversos apresentadores e ficou mais contida. Chegou a adotar (mas abandonou) um "giro" de fofocas light de celebridades.

Em março, o satírico "Tá no Ar" exibiu um esquete com Naja Spice, "mau caráter, sem talento, fofoqueira, e atualmente colunista de TV de um portal da internet". Com sotaque paulistano carregado, a personagem foi associada a Fabíola.

"Achei engraçadíssimo. Estava engraçado, sendo eu ou não, teve uma boa sacada. Eu falo dos outros, as pessoas têm o direito de falar de mim. Vou fazer a ofendidinha agora?", ela diz.

Gráfico
DANDO O BOTEO confronto entre Globo e Record no quadro
Média mensal no Ibope da Grande SP. Cada ponto equivale a 197,8 mil espectadores.

Na Record, a avaliação é de que em time que está ganhando não se mexe. A ordem é procriar: o canal reproduziu o quadro em outros Estados, como Rio, Bahia e Minas Gerais. O custo de "A Hora da Venenosa" é pequeno, pois não há reportagens próprias.

Quem diria, uma cobra de pelúcia –antes abandonada no acervo da Record– se tornaria o mascote mais popular das tardes paulistas.


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