Folha de S. Paulo


Festival Latino-Americano tem bons filmes, mas usa tática de reforçar só os premiados

A 11ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo tem início nesta quarta (20) com uma boa amostragem da produção da região: são 118 filmes de 13 países. Há tanto representantes de cinematografias tradicionais, como as do México e da Argentina, como emergentes, a exemplo da paraguaia e da guatemalteca.

É de se lastimar, porém, que o evento se apoie tanto no cinema brasileiro, dedicando sessões a cineastas e estreias locais, que já possuem espaço em outros programas de nosso calendário.

Fica a impressão de que os organizadores temem um fracasso caso ponham o foco principal do evento em filmes de outros países da região.

Divulgação
 Cena do filme
Cena do filme "Aqui Não Aconteceu Nada", que será exibido no Festival de Cinema Latino-Americano

Mesmo ao propagandear a presença dos outros latinos, o festival utiliza a tática usual de reforçar aqueles premiados em eventos europeus. Um pouco como quem diz "é paraguaio, mas foi premiado em Roterdã", ou "é colombiano, mas foi elogiado em Cannes".

Uma pena que esse selo de qualidade europeu ainda seja mais necessário do que o julgamento do público e da crítica locais.

DESTAQUES

Ressalvas à parte, vale destacar os excelentes filmes elencados. Um deles é "A Geada Negra", do argentino Maximiliano Schonfeld, espécie de fábula que conta as transformações numa colônia de imigrantes no interior de Entre Ríos quando uma forasteira aparece e provoca mudanças na natureza.

Também da Argentina é "Forasteiro", que acompanha três jovens num balneário frio. Filmado em preto e branco, mostra um local destinado a ser um grande centro turístico, com um hotel gigante e avenidas largas de passeio, mas que por algum motivo não emplacou. "Era um lugar para ser e não foi, como muitos sonhos da juventude nos dias de hoje", conta a diretora Lucía Ferreyra à Folha. "Esses jovens estão vagando nesse mundo desproporcional de esperanças perdidas."

O México vem bem representado por produções recentes, como "Yo", de Matías Meyer, adaptação de obra do Nobel francês Le Clézio, e pela mostra Cine Negro, homenagem à época de ouro do cinema mexicano –os anos 1940–, quando país era o principal produtor de filmes em língua espanhola.

É do Chile, porém, que vem um dos mais interessantes trabalhos: "Aqui Não Aconteceu Nada", de Alejandro Fernández Almendras. Aparentemente, trata-se apenas de um suspense sobre um acidente envolvendo jovens bêbados. Quando a investigação policial ganha corpo, porém, o que sobressalta é o mundo de influências e de poder que sustentam a sociedade chilena, remontando seu funcionamento desde os tempos de Pinochet (1973-1990).

11º FESTIVAL DE CINEMA LATINO-AMERICANO
QUANDO de 20 a 27/7
ONDE programação completa em festlatinosp.com.br


Endereço da página: