"Quando vou ao teatro e não é para fotografar, sinto que estou perdendo tempo. O meu tempo e o dos atores. Acho que estou fazendo com que eles desperdicem a cena, pois meu impulso é o de documentar", conta a fotógrafa Lenise Pinheiro, há mais de 30 anos retratando cenas, camarins, bastidores, rostos e emoções do teatro brasileiro.
O resultado disso, além das inúmeras fotos publicadas no cotidiano da cobertura de teatro da Folha, também virou livro.
Ou melhor, livros. Em 2009, saiu o primeiro volume de "Fotografia de Palco", com mais de 570 fotos. Nesta terça (19), Pinheiro lança "Fotografia de Palco 2", em que são retratados mais de 600 atores, em espetáculos encenados desde 1983 até 2015.
Quem conhece o trabalho da fotógrafa apenas por meio do que se publicou no jornal se surpreenderá com os detalhes do mundo teatral nos quais Pinheiro está sempre de olho. Dividido em capítulos destinados a imagens de camarins, ensaios, figurinos, cenários e iluminação, o livro proporciona uma visão mais ampla da montagem de um espetáculo.
"Não me contento só com o que está sendo mostrado, com o que o espectador verá da plateia. Gosto de observar o que se passa nos bastidores. Desse modo acabo me permitindo, por exemplo, reverenciar o trabalho de uma costureira."
É difícil dar uma amostra justa de quem está retratado nos livros, uma vez que parecem incluir quase todos os nomes de destaque dos palcos brasileiros: Antônio Abujamra (1932-2015), Raul Cortez (1932-2006), Maria Della Costa (1926-2015), Antônio Fagundes, Eva Wilma, Zé Celso Martinez Corrêa e tantos outros.
"É comum eu encontrar gente que me diz que o melhor ou o único registro de um espetáculo seu bem antigo é uma foto minha. Orgulho-me de ter acompanhado a carreira de muitos atores e diretores desde o começo."
Nem todas as memórias da fotógrafa no teatro são boas, porém. "A gente se acostuma com um ambiente em que há pouco dinheiro, e em que o fracasso é iminente. Nesse cenário, mesmo para aqueles que alcançam o sucesso, isso também se torna algo difícil de lidar."
Sobre seu método, afirma que foi mudando de acordo com a chegada das novas tecnologias. "Foram variando os pesos a carregar, os equipamentos. Mas, hoje em dia, o grande problema é lidar com o carregamento de tantas baterias", conta, dando risada.
Relata, ainda, que já trocou muitas vezes de aparelhagem, mas que tem um que não abandona de jeito nenhum. "É o meu monopé de estimação, está comigo há anos."