Folha de S. Paulo


Indicado ao Emmy, Liev Schreiber vive anti-herói em 'Ray Donovan'

Revelada na quinta (14), a lista de indicados a melhor ator em série dramática do Emmy 2016 confirma a atual predileção dos seriados americanos pelos anti-heróis.

Há o presidente maquiavélico de Kevin Spacey em "House of Cards", o advogado antiético de Bob Odenkirk em "Better Call Saul". Em "The Americans", Matthew Rhys é um espião da KGB e Rami Malek, o hacker atormentado de "Mr. Robot".

E o atormentado Ray Donovan vivido por Liev Schreiber —que diz não haver personagem que já não tenha sido interpretado antes. Nem mesmo os tipos agora celebrados pelo principal prêmio da TV americana, ao qual o ator acaba de ser indicado pelo segundo ano consecutivo pelo seriado "Ray Donovan", atualmente na quarta temporada.

"O anti-herói é uma parte central nos dramas de Shakespeare. Ray me lembra personagens como Macbeth, assombrado pelo fantasma de Banquo, ou Hamlet, perseguido pelo fantasma do pai", comenta. "Ou Otelo, movido pela fúria da infidelidade e que ao mesmo tempo carrega uma ternura tremenda."

Casmurro, Ray é o cara que se disfarça em ternos impecáveis para fazer o trabalho sujo —e bem pago— para os ricos e poderosos de Los Angeles, que o contratam para abafar escândalos ou dar um sumiço em algum dedo-duro.

Mas não consegue resolver o ódio mútuo que nutre pelo pai, o gângster Mickey, papel de John Voight, vencedor do Globo de Ouro pelo papel e agora indicado ao Emmy de ator coadjuvante.

O conflito —Ray denunciou Mickey por um crime de que o patriarca era inocente e pelo qual ficou 20 anos na prisão—, rende grandes duelos de interpretação e nesta temporada, segundo adianta Schreiber, pode alcançar a redenção.

"Eles vão tentar começar um novo relacionamento, o resultado pode ser divertido", aposta Schreiber.

No cinema, Schreiber é mais conhecido por personagens menos ambíguos, como o editor Marty Baron do time de repórteres de "Spotlight" e o vilão Victor Creed, em "X-Men".

À Folha, o ator atribui o fascínio que tipos mais difíceis como Ray produzem nas narrativas em profundidade feitas para a TV à identificação gerada por sua complexidade: o mundo é bom e ruim, ao mesmo tempo.

"Eles carregam a polarização de uma ideia, o bonito e o feio, e todas essas coisas podem coexistir, como o fazem em todos nós", teoriza.

Sobre o gerenciador de crises que interpreta, ele ainda observa o fascínio que a própria indústria do entretenimento reproduz sobre os escândalos do showbiz.

"Talvez parte dessa obsessão tenha a ver com a nossa própria luta interior para encontrar um equilíbrio moral em nossas próprias vidas". diz. "Em algum nível, todos queremos ser alguém de princípios, mas não resistimos ao nosso lado mais escuro."

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NA TV - Ray Donovan
QUANDO sex., às 22h, na HBO


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