Folha de S. Paulo


'Babenco tinha franqueza absoluta', diz Tony Ramos no velório do diretor

Em cerimônia fechada realizada na manhã desta sexta (15), na Cinemateca Brasileira, parentes e amigos se despedem de Hector Babenco, morto nesta quarta (13) após uma parada cardíaca.

A atriz Karin Rodrigues, que foi sogra do cineasta por sete anos, lamentou a perda. "É uma geração que está partindo, é muito triste de se ver." Ao relembrar a convivência com Babenco, ela ressaltou seu bom humor. "Ele era o tipo de pessoa que é gostoso de encontrar, sempre muito divertido."

Tony Ramos, 67, deixou o velório visivelmente emocionado. "Estamos nos despedindo de um companheiro da maior importância para a classe e para o país.

O ator esteve na peça "A Morte E A Donzela", produzida pelo diretor. Tony destacou "presença criativa" de Babenco e sua "personalidade forte".

"Hector era de uma franqueza absoluta, jamais mascarava o que dizia. Sempre dava dicas amáveis e contundentes para os atores", disse.

A senadora e ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PMDB) prestou solidariedade à família. "Ele tinha uma sensibilidade e uma humanidade que contribuíram muito para o nosso cinema", afirmou.

A atriz Tuna Dwek relembrou o último filme do diretor, "Meu Amigo Hindu", do qual participou.  "No longa ele fala 'eu só queria ter tempo para fazer mais um filme'. O personagem é o alter ego-dele. Infelizmente não deu tempo de ele fazer esse outro."

O diretor de teatro José Possi Neto classificou Babenco como "um grande realizador, como se diz na França ". Para ele, a obra do cineasta "seguirá influenciando as próximas gerações, assim como o trabalho dos grandes mestres".

O cônsul da Argentina em São Paulo Diego Malpede classificou Babenco como um dos pioneiros do cinema moderno na América Latina. "Ele foi mais brasileiro do que argentino, mas sua obra foi muito admirada na Argentina".

"Se existe uma coisa que caracteriza o público argentino é o seu amor pelo cinema, e Babenco foi um dos nossos grandes nomes ",  completou.

Pascoal da Conceição relembrou o amigo como um "militante opinativo". O ator contou que assistiu a "Pixote" ainda adolescente e ficou impressionado. "E é por isso que sempre gostei dele, que era uma pessoa forte".

Para Eduardo Suplicy, Babenco era dono de uma sensibilidade "formidável". O ex-secretário de Direitos Humanos de São Paulo diz acreditar que o conhecimento do diretor sobre São Paulo propiciou filmes "tão realistas" como "Pixote" e "Carandiru".

"Babenco foi um dos maiores cineastas dos tempos que vivemos. Admiro todos os seus filmes, que são de uma coragem impressionante", avalia.

Supla falou sobre sua experiência sendo dirigido por Babenco. O cantor gravou uma passagem que acabou de fora de "Meu Amigo Hindu". "Ele é um cara muito sério com o trabalho, fez com que eu me sentisse à vontade durante as filmagens".

Supla afirma que "Pixote" foi o primeiro filme nacional que lhe impressionou. "Eu via aquelas cenas e entendia do que se tratava. É importante que a nova geração confira os filmes dele"

"Ele dizia que na próxima encarnação queria voltar como Rita Cadillac. Agora está a caminho. Eu quero voltar como Hector", disse a cantora e dançarina que interpretou ela mesma em "Carandiru".

Rita conta que se encontrou com Hector há dois meses e notou que ele estava "bastante fraquinho". Sobre a cena clássica em que se apresenta para os detentos do presídio, desativado em 2002, ela afirma que "foi tudo imaginação de Hector". "Eu até falei que não me apresentava daquela maneira [durante visitações ao Carandiru], mas ele insistiu que eu tinha que fazer o que realmente não fazia, o que ficava na imaginação".

Ex-mulher de Babenco, a atriz Bárbara Paz, chegou mais cedo e não deu entrevistas. A galerista Raquel Arnaud, uma das ex-mulheres de Babenco, passou mal e teve de ser socorrida.


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