Folha de S. Paulo


Alice Braga vai de Walter White a Pablo Escobar como traficante na TV

Veja o trailer de A Rainha do Sul

"A Rainha do Sul" não está sozinha. A série que estreia na quinta (7) no país, pelo canal pago Space, parece se inscrever em uma tendência televisiva, especialmente a americana: histórias sobre o crime organizado contadas sob a perspectiva de grandes traficantes.

Teresa Mendoza, a primeira protagonista da brasileira Alice Braga na TV americana, é uma mexicana que domina o tráfico em Dallas, no Texas. A cocaína é o elemento que, por passe de mágica e muita porrada, transforma a personagem que começa a história fugindo, com uma mão na frente e outra atrás, em uma "rainha".

Como a metanfetamina se encarrega da dissolução moral de Walter White, o professor certinho de química transformado em chefe da cadeia da droga em "Breaking Bad".

Divulgação
Alice Braga vive a narcotraficante Teresa, a protagonista da série americana
Alice Braga vive a narcotraficante Teresa, a protagonista da série americana "A Rainha do Sul"

Em "Narcos", vemos uma narrativa inspirada na trajetória do mais célebre narcotraficante da história, o colombiano Pablo Escobar –vivido também por um brasileiro, Wagner Moura. O papel deu projeção internacional ao ator, indicado ao Globo de Ouro neste ano. "Eu e Wagner acabamos não tendo muito tempo para conversar, ele estava loucão filmando, e eu entrei de cabeça também", diz Alice.

Ou mesmo o Cadu da nacional "1 contra Todos", que estreou em junho na Fox: um advogado preso por engano com toneladas de maconha precisa assumir a personalidade violenta do traficante para sobreviver ao crime organizado dentro da cadeia.

Estaria a TV viciada nos heróis da droga? O fascínio de tipos como Teresa ou Walter White, opina Alice, vem das altas doses de entretenimento de suas histórias, carregadas de drama e ação.

"Eles são muito distantes da realidade de todo mundo, independente de você viver em cidade violenta ou não. Existe uma curiosidade muito grande. E eles geram muito entretenimento, porque existem muitas possibilidades dramáticas e de ação", diz a atriz.

Para Breno Silveira, criador de "1 contra Todos", o apelo está na atualidade, não na distância. Especialmente da audiência latino-americana, que sofre com a violência decorrente do tráfico. "A gente vive refém, é um tema que está todo dia na pauta das cidades", comenta.

SALTO ALTO

Uma preocupação que Alice —favorável à descriminalização das drogas desde que se fortaleça o combate à violência— conta ter dividido com os roteiristas de "A Rainha do Sul". "A violência é triste, bruta. Conversei bastante com os roteiristas para não glamorizar, mesmo o projeto acabando com ela sendo poderosa."

Poderosíssima: no controle do tráfico, Teresa troca os jeans e botas surradas por tubinhos e salto alto, num visual entre a ex-Spice Girl Victoria Beckham e uma vilã de novela mexicana.

A referência não vem à toa: "A Rainha do Sul" originalmente é um livro de Arturo Pérez-Reverte e uma telenovela, exibida pelo canal americano Telemundo.

Sintoma de outro vício das séries contemporâneas, que têm bebido na fonte dos folhetins eletrônicos populares na América Latina —vencedora do Emmy, "Jane the Virgin" se inspirou em uma novela venezuelana.

Comparações à parte, em "A Rainha do Sul" faz toda a diferença entrar no mundo das drogas sob a perspectiva de uma mulher. Trata-se da jornada de superação e sobrevivência de uma jovem imigrante apaixonada pelo namorado, morto por cartéis inimigos, mas principalmente pelo poder.

O primeiro episódio traz boas pistas sobre as motivações de Teresa —segundo Alice, ela "começa Walter White e depois vira Pablo Escobar". Nos momentos de grande apuro, em que sua morte parece inevitável, ela vislumbra a si mesma banhada em joias, bem sucedida.

Num momento em que as desigualdades de gênero estão na ordem do dia, e a pauta feminista se fortalece no entretenimento, pode ser interessante acompanhar uma mulher reinando em um universo tradicionalmente representado como masculino, como o tráfico.

A maneira como Teresa consegue escapar de um episódio de estupro no primeiro episódio parece um tributo a "Thelma e Louise", em que Geena Davis e Susan Sarandon fogem tombando homens abusivos pelo caminho.

NA TV
A Rainha do Sul
QUANDO qui., às 22h30, no Space


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