Folha de S. Paulo


CRÔNICA

Uma Flip para chamar de sua

O escritor mexicano Álvaro Enrigue contou que no século 17 a Coroa Espanhola mandou importar do Japão cem samurais para ajudar os navegantes do Golfo do México a se livrarem da pirataria que atrapalhava a Marinha Mercante. Eles nunca mais foram embora do México. Casaram-se, tiveram filhos, nunca abriram mão de suas lâminas e seriam a origem dos métodos de execução dos atuais cartéis de drogas.

A história me foi contada numa festa, a mesma em que, no fim da noite, me contaram que o jornalista Xico Sá vai ser pai.

Numa mesa, o mediador tomou o lugar de um dos debatedores. E o público fez tantas perguntas para o primeiro quanto para os outros dois.

Essa Flip parece mais vazia do que outras. O dono de um restaurante tailandês atribui o público menor não à crise econômica, mas à escolha da homenageada, a poeta Ana Cristina Cesar, mais desconhecida do público do que os autores dos anos passados. A prova, diz ele, é que o Festival da Cachaça, em agosto de 2015, e o Carnaval, agora em fevereiro, estavam lotados.

Mesmo com lugares à venda para a plateia de muitas das mesas, tem muita espera na Flip: nos restaurantes mais procurados, nos debates mais concorridos e nas festas mais badaladas.

Nessas esperas encontra-se gente. Gente com coisas para contar. Neste ano, por exemplo, já ouvi que a Flip não tem exatamente uma musa, mas dois musos: o escritor americano Benjamin Moser e o norueguês Karl Ove Knausgård. O americano Bill Clegg também era um candidato, mas veio muito arrumadinho para o público local.

Todo o mundo tem uma história para contar. A impressão que dá é que quase todas as pessoas que você encontra mereciam no mínimo uma hora de conversa.

Foi com essa mesma impressão que saí do encontro com Bill Clegg e Irvine Welsh, na noite de quinta, que não deu muito certo. Naquele caso, ambos precisavam de uma mesa toda para si.


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