Folha de S. Paulo


'Largue o guia de viagem', diz Zeca Camargo em debate na Casa Folha

Keiny Andrade/Folhapress
Paraty, RJ, 01.07.2016 - FLIP 2016 ILUSTRADA - CASA FOLHA - Zeca Camargo fala com o publico, com mediacao Andre Barcinski (esq). FOTO: Keiny Andrade/Folhapress
Zeca Camargo fala com o público na Casa Folha, com mediação de André Barcinski

O jornalista Zeca Camargo lançará em agosto um guia de viagens, mas sua dica para os turistas é: deixem esse tipo de literatura em casa. Ele falou sobre sua vida como jornalista de turismo na manhã deste domingo (3), na Casa Folha, em Paraty, onde acontece a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

"Não tem nada mais triste do que você subir na Torre Eiffel, por exemplo, chegar lá em cima e falar, 'puxa aqui tem cinco toneladas de ferro, 1.600 degraus", disse, fazendo a plateia rir. "Você tem que viver a sua experiência."

Na verdade, o livro que publicará em agosto, o e-book "Eu Ando pelo Mundo: Paris" (e-galáxia), é um pouco mais do que um guia: mistura relatos pessoais do jornalista na cidade com dicas e referências. É o primeiro de uma coleção.

O mediador da conversa, o também jornalista André Barcinski, observou que a cidade de estreia é uma em que caminha-se bastante, e Camargo disse que vê a caminhada a esmo como uma experiência essencial para um turista.

"Esse exercício de andar pelas cidades, de se perder, especialmente se você não tem intimidade com o lugar, é muito gostoso.

Para ele, é inegável que as capitais europeias estão cada vez mais homogêneas como resultado do monopólio de cadeias de cafés, lojas, livrarias.

"Isso só reforça a ideia de que é importante você fazer o seu roteiro, para fugir dessa mesmice. Às vezes, os guias indicam coisas de patrocinadores. Se perder, fazer seu próprio roteiro, é o antídoto para deixar as cidades menos parecidas."

Camargo comentou como os acontecimentos desde o 11 de setembro mudaram a experiência de viajar.

"Paris, hoje, é uma cidade em que você vê seguranças armados na rua como não se via há três anos. O que virou o jogo foi o episódio do Charlie Hebdo. Esse é o plano dos terroristas, querem assustar e tirar o nosso direito de andar."

Uma pessoa da plateia perguntou a ele que lugares ele não recomenda que uma mulher visite sozinha. A pergunta foi aplaudida.

Camargo citou o Norte da África. "Você pode se sentir incomodada com o assédio, mas isso vai até a página 15. Não conheço relatos de moléstia, quando se viaja à luz do dia, firme, respeitando as pessoas, tudo sai bem."

TURISMO NO BRASIL

Turista profissional, Camargo diz que o Brasil ainda tem muito a aprender nessa área. "Fico impressionado com como o país é subaproveitado. Tem que haver uma mobilização do poder público, que precisa reconhecer o turismo como uma indústria importante, dos empresários e dos turistas também, que devem ser mais exigentes."

Ser brasileiro fora do Brasil já foi melhor, disse. "Ultimamente você fala que é brasileiro e as pessoas riem. Não entendem como vivemos num país tão bagunçado. Não temos nada para nos orgulhar, nem o futebol! As pessoas perguntam sobre a Olimpíada e acham que vai ser um mico", contou.


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