Folha de S. Paulo


Banda Boca Livre sugere que operação da PF mude nome para 'Rega-Bofe'

Frederico Mendes/Divulgação
Boca
O conjunto Boca Livre em sua formação mais recente

Zé Renato acordou na terça (27) com dezenas de mensagens no seu celular. Todas versavam sobre a Operação Boca Livre, que a Polícia Federal havia deflagrado naquela manhã, prendendo 14 pessoas ligadas ao métier artístico, como ele.

Mas o músico de 60 anos não tinha nada a ver com a ação dos homens da lei, que descobriram um esquema em que verbas levantadas por meio da Lei Rouanet eram usadas para financiar casamentos ou festas de fim de ano de firmas.

A não ser um detalhe: Boca Livre é também o nome do quarteto vocal masculino que ele fundou com amigos em 1978 e que, mesmo com uma rotatividade de membros, nunca parou de cantar.

Divulgação
Integrantes do conjunto musical
Integrantes do conjunto musical Boca Livre em 1998

Depois de se informar sobre o que acontecia no país, o músico foi às redes sociais e fez choça, sugerindo nomes alternativos ao da sua banda para a ação dos policiais: "Operação Tira Gosto ou, quem sabe, Operação Rega Bofe ou, já que é PF, Operação Prato Quente".

"Brincar era o melhor que eu podia fazer nessa situação", diz Zé Renato.

Um funcionário da Polícia Federal afirmou que a operação não foi uma homenagem à banda, mas sim ao uso de dinheiro de imposto abdicado pelo Estado que acabava em... bem, boca livre.

O grupo afirma jamais ter pleiteado nada pela Rouanet. "A gente vive de dinheiro do contratante ou de bilheteria mesmo. Se não for ninguém, não paga o nosso café", diz a empresária Memeca Moschkovich. "Talvez seja preciso uma atualização da lei, para evitar brechas como essas que estão sendo investigadas", avalia Zé Renato, aos 40 anos de carreira.

A confusão envolvendo a operação policial não foi a primeira: "Por causa do nome da banda, muita gente já achou que ia comer de graça no show", ri o vocalista.

MAIS CONFUSÕES

O Boca Livre, a banda, nasceu do encontro de quatro jovens que queriam fazer música com muito vocal e violões de cordas de aço e de náilon. Fizeram uma romaria por gravadoras, mas ninguém se interessou.

Lançaram o disco independentemente e, impulsionados por hits como "Toada", "Quem Tem a Viola" e "Diana", venderam 100 mil cópias e viraram queridinhos da Rede Globo, que os escalou para diversos programas.

Conquistaram fãs com músicas de métrica inusitada e vogais quadruplicadas.

Ouça no deezer

Seguiu-se, então, uma carreira com turnês nos EUA e na Europa e parcerias com nomes como Milton Nascimento, Edu Lobo e Tom Jobim.

Foram comparados a grupos como os franceses do Gipsy Kings. "São acertadas as comparações, mas nenhuma abrange nossas características. Temos elementos de bossa-nova", diz outro membro, Maurício Maestro, 67, arranjador do grupo e único que nunca deixou a banda.

AINDA ATIVOS

Após oito formações, os veteranos não pretendem fechar a boca. Em 2014, foram os vencedores da categoria banda de MPB do Prêmio da Música Brasileira.

Nos últimos meses, gravaram um álbum com versões do repertório do cantor panamenho Rubén Blades. "O próprio Blades financiou esse disco, que deve sair no segundo semestre", diz Zé Renato.

Para quem quiser conferir a Boca Livre de perto: às 20h deste domingo (3), o grupo faz show no teatro da UFF, em Niterói, no Rio de Janeiro.

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CANTE COM ELES
Sucessos de 1979

Quem Tem a Viola
(Zé Renato/Xico Chaves/Claudio Nucci/Juca Filho)

Quem tem a viola
Prá se acompanhar
Não vive sozinho
Nem pode penar
Tem som de rio
Numa corda de metal
Tem o mar num acorde final

Quem tem a viola
Prá se acompanhar
Não vive sozinho
Nem pode penar
Tem tom de roupa
Quando seca no varal
Luz do Sol
Quando cai no cristal

Faz o luar brilhar
E um coração vazio
Voa vadio
Feito uma pipa no ar

Toada (Na Direção do Dia)
(Zé Renato/Claudio Nucci/Juca Filho)

Vem morena ouvir comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Prá ver você mais feliz

Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada prá descansar
No coração sereno da toada, bem querer

Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender

Morena, ouve comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Prá ver você mais feliz


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