Folha de S. Paulo


CRÔNICA

De fora para dentro

Conversei com as duas autoras hispano-americanas que falam nesta sexta na Flip, a mexicana Valeria Luiselli e a peruana Gabriela Wiener.

As duas vivem fora de seu país natal, e são exemplos de como há hoje uma corrente de autores de olhar estrangeiro na literatura latino-americana. Luiselli mora em Nova York. Wiener, em Madri.

O curioso é que, embora ambas se preocupem com a realidade de seus países —Luiselli com a violência mexicana, Wiener com o conservadorismo peruano— seu olhar é diferente daquele de seus conterrâneos.

Criticada no México como "estrangeira", Luiselli tem uma abordagem menos ideológica e mais equilibrada dos problemas de sua terra. Sugere que é preciso conhecê-los com mais informação. Planeja, por exemplo, uma investigação sobre onde nascem as correntes migratórias e as gangues que causam violência no México e na América Central.

Já Wiener vê com preocupação o fato de as questões de gênero estarem em estágio tão atrasado em seu país. Mas não culpa igreja e políticos —como fazem escritoras, intelectuais e ativistas no Peru. Ela aponta também para as mulheres de classe média dos centros urbanos, por terem informação e poder de decisão, mas que se ajustam ao sistema.

A Flip 2016 traz boa amostra de como a literatura hispano-americana tem se internacionalizado. Luiselli e Wiener não são casos únicos.

Também olhando para seus países desde o lado de fora estão o boliviano Edmundo Paz Soldán, professor de literatura da Cornell University. Ou o peruano Daniel Alarcón, que fundou, na California, a Radio Ambulante, um podcast para contar histórias latino-americanas. Também na Espanha vive Patricio Pron, argentino formado na Alemanha, e que lança um olhar sobre a ditadura menos ideologizado e mais original que o do que seus conterrâneos.


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