Folha de S. Paulo


Debate analisa rumos do jornalismo impresso e on-line na Casa Folha

Afinal, quem lê tanta notícia? A pergunta lançada por Caetano Veloso há quase meio século continua sem resposta precisa. Uma certeza, contudo, é que nunca se consumiu tanta notícia. Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha, afirma que "temos uma audiência nunca vista" e, por outro lado, "estamos numa encruzilhada: o jornalismo como negócio não anda bem".

Na tarde desta quinta (30), na Casa Folha, durante a programação da 14ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), Dávila se juntou a Ascânio Seleme, diretor de Redação do jornal "O Globo", e Matinas Suzuki Jr., diretor-executivo da Companhia das Letras, para uma conversa sobre os desafios do conteúdo impresso em tempos de internet e a construção da primeira página de um diário.

Seleme afirmou que, no ano passado, "O Globo" teve 2 bilhões de cliques em mídias digitais. "A gente produz entre 400 e 500 peças jornalísticas por dia: texto, foto, vídeo... É um conteúdo novo a cada três minutos", diz. "Um leitor teria de comer pouco e dormir pouco para consumir tudo isso."

Apesar dos números hiperbólicos, o jornalismo on-line, diz Ascânio, "não gera tanta receita".

Diretor da Companhia das Letras, editora que lança aproximadamente 30 títulos ao mês, Suzuki lembrou que o negócio de livro impresso, por mais que não pareça, tem um "respiro".

"Não sei por que cargas d'água o livro físico sobreviveu", brinca. "Mas os digitais, há cinco anos, tiveram um crescimento de 20% e, depois, o mercado estabilizou. Agora pode cair."

Ele afirma que, hoje, o livro físico é muito consumido por leitores adolescentes –que, paradoxalmente, são a maior fatia da presença na internet. "Nas bienais é algo inacreditável: jovens de classe C, entre 12 e 14 anos, formando filas! Na última Bienal do Livro de São Paulo, a compra média foi de seis exemplares por pessoa."

Suzuki, que trabalhou na Folha por 16 anos e participou da fundação da rede de jornalismo "Bom Dia", no interior de São Paulo, passou a questionar Dávila e Seleme sobre como se faz a primeira página de um jornal hoje, "pois editar a primeira página sempre foi ordenar o mundo".

O diretor do jornal "O Globo" lembrou, então, que, na edição da votação do afastamento da presidente Dilma Rousseff –pleito que durou a madrugada toda, prejudicando o fechamento do diário–, mandou a primeira página às 7h50 do dia seguinte. "Chegou tarde na casa do leitor, mas foi histórico."

Dávila apontou que a Folha fechou depois das 3h do dia seguinte –antes que a votação fosse encerrada. "A gente chegou a cogitar esperar pelo fim, mas a entrega do jornal às diversas regiões do país seria atrasada."

O cuidado na edição da primeira página foi citado por Dávila como um diferencial nos dias atuais, "em que boato é tratado como rumor, que é tratado como notícia". Neste momento, diz, "a marca do editor ganha importância. É preciso separar o joio do trigo."

"A primeira página precisa ser sexy, ter apelo", enquanto a home deve acompanhar a evolução dos acontecimentos do dia, afirma Seleme.

Ao fim da conversa, foi lançada a nova edição de "Primeira Página", livro da editora Publifolha que traz as mais importantes capas dos 95 anos do jornal.

Chamada Flip


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