Folha de S. Paulo


Autora que criou livro em 'dislexiquês' conta na Flip jornada para publicá-lo

"Quem continuar lendo, vai encontrar uma bagunça, parágrafos repepetidos, paralavras repetidas repetidas, ideias repetidas, um monte de erros." É assim que o jovem leitor é introduzido a "Dislexicando", livro de Marina Miyazaki Araujo escrito na "linguagem dos disléxicos".

"Quis dar voz às crianças disléxicas. Não somos coitadinhos", disse a escritora em mesa na manhã desta quarta (30) na Flipinha, programação de literatura infanto-juvenil da Flip.

Participaram também as autoras Aline Abreu, Liliane Oraggio e Raquel Matsushita, discutindo estratégias para abordar assuntos delicados, como morte, luto e doenças, na literatura para crianças.

Natália Portinari/Folhapress
A escritora Marina Miyazaki Araujo, autora de
A escritora Marina Miyazaki Araujo, autora de "Dislexicando"

Araujo estreou em 2015 com dois livros (ambos pela Editora Pólen). "Pai Francisco", sobre um menino cujo pai foi preso, e "Dislexicando", um manual de como sobreviver à dislexia na infância, com dicas e relatos pessoais da autora. Antes, ela escrevia um blog, "Mulher e Futebol".

"Como tem erros ortográficos, eu tinha receio de apresentar o livro. Estava engavetado há muito tempo. Imagina, um livro infantil com erros", conta à Folha. Ela ganhou coragem quando conheceu o ilustrador Tony de Marco, também disléxico.

"Tenho um perfil no Twitter, Dislexicando, onde escrevo tudo errado. Foi por lá que o Tony me conheceu." Os dois se uniram para oferecer o projeto às editoras, mas receberam algumas recusas.

"Uma editora queria o livro, mas corrigido. Nós falamos: 'Não, ou a gente é incluído, ou vocês aceitam a gente, ou não queremos'. Tenho que escrever certo sobre o fato de eu escrever errado? Pela primeira vez, os 'normais' tiveram que se adaptar à gente."

Outro incentivo veio dos filhos. A autora tem cinco, três deles adotados. "Quando eu era criança, achava que dislexia era a pior coisa do planeta. Hoje percebi que meus filhos passaram por perdas que foram muito piores", diz a escritora. "Eles mesmo apontavam meus erros e parei de ter vergonha. Foi ótimo sair do armário."

A dificuldade veio na hora de revisar "Dislexicando" —quais erros eram propositais, quais eram mais ou menos propositais e quais deveriam ser corrigidos? "Coloquei minha idade errada, por exemplo. Tinha 48, mas disse que tinha 49. Isso foi um lapso mesmo", lembrou a autora, rindo da situação.

*

Leia trechos do livro:

Era uma ves uma menina disléxica qe não sabia que era diléxica e também não sabia o que era dislexia. Quando soube que Dislexia era um prorblema na leitura e na escrita que algumas crianças e até adultos podem ter, ela começou a dislexicar mais à vontade.

Saber o qe era dilesxiai ajudou e atrapalhou. Ajudou pois ela comçou a entender por que errava tanto e passou a reconhcer os tipos de erro que cometia, assim, poderia pedir ajuda a algum adulto para tentar melhorar (mas nunca pediu ajuda por qe tinha vergonha e medo).

Até qe um dia, já adulta, resolveu contar para todos sobre a sua dislexia, e ninguén acreditou e ela nem se importol. E passou o resto ad vida dilexscando profissionalmente.

Chamada Flip


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