Folha de S. Paulo


crítica

'Procurando Dory' agrada, mas não tem a magia de 'Nemo'

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Criança gosta de repetição. Todo mundo que tem filho ou sobrinho conhece muito bem aquela fase na qual a garotada encasqueta com um desenho animado e prefere revê-lo dez vezes a colocar um filme novo para assistir.

"Procurando Dory" é feito para o fã de "Procurando Nemo", não importa sua idade ou quantas vezes tenha visto o primeiro filme. E para meninos menores, que vão gostar desta continuação para só depois descobrir o original em casa, no Blu-ray.

Mas esta crítica é dirigida a adultos, que vão acompanhar as crianças ao cinema e devem se lembrar de "Nemo". Para esse público, "Dory" é simplesmente uma repetição. O que não significa ser ruim.

Para Saber na Fila - Dory

Os méritos de "Nemo" continuam na tela. Em 2003, a animação da Pixar foi saudada –merecidamente– como um delírio visual. Os detalhes da fauna subaquática impressionavam. Cada pedacinho de alga se movimentava de forma independente, num desfile exuberante de cores.

Outro acerto era a caracterização de várias espécies no elenco da aventura. Entre tipos muito engraçados, destacava-se justamente Dory, peixinho azul fêmea com um sério problema, esquecendo de tudo a cada dez minutos.

Depois de 13 anos, a produção americana de animações vive um momento de apostas nas sequências de sucessos de bilheteria. Alternam-se nas telas as continuações de "Kung Fu Panda", "A Era do Gelo" e "Madagascar", entre outros.

A produtora Pixar, que há três anos se arriscou em continuar "Monstros S/A" (2001) sem repetir o mesmo humor, encontrou em Dory o melhor gancho possível para seguir com "Procurando Nemo".

Para o público americano –e brasileiros que prefiram a versão legendada–, Dory tem o atrativo extra de ser dublada pela atriz e apresentadora Ellen DeGeneres, com ótimo "tempo" de comédia.

O que emperra "Procurando Dory" é o roteiro. Ele é, basicamente, uma pura inversão da história do primeiro filme, quando o pai do peixinho Nemo cruza os mares em busca do filhote capturado, que vai parar em Sydney.

Agora, a filha procura os pais. Na verdade, o filme poderia ter o título "Dory Procurando". Ela consegue recuperar um pouquinho da memória, o suficiente para descobrir como foi separada dos pais e parte atrás deles, levando junto Nemo e seu pai, Marlin.

Assim, a trama é esquemática e previsível. E supera "Nemo" na insistência em celebrar a força da família, do amor capaz de superar todas as adversidades. Mensagem bonita, mas em alguns momentos explícita demais, de modo quase panfletário.

Mas o encantamento visual está garantido. E, já tratando "Procurando Dory" como o segundo exemplar de uma franquia que pode aumentar, há personagens secundários na história que praticamente estão gritando por mais espaço.

São bons exemplos o polvo Hank, dublado por Ed O'Neill (o Jay Pritchett da série de TV "Modern Family") e a beluga Bailey, com a voz de Ty Burrell (o Phil Dunphy da mesma "Modern Family"). Se a Pixar mantiver sua esperteza, algum roteirista já deve estar escrevendo aventuras para eles.

Num balanço final, "Procurando Dory" é empolgante para os pequenos e agradável para os pais, mesmo distante da magia de "Nemo".

PROCURANDO DORY
(Finding Dory)
DIREÇÃO: ANDREW STANTON E ANGUS MACLANE
PRODUÇÃO: EUA, 2016, LIVRE
QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (30)


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