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Em casamento, sertanejo foi pago por projeto 'Caminhos Sinfônicos', diz PF

Reprodução/Instagram
Decoração do casamento investigado pela Polícia Federal, na praia Jurerê Internacional
Decoração do casamento investigado pela Polícia Federal, na praia Jurerê Internacional

O sertanejo Leo Rodriguez, intérprete de "Bará Bará, Bere Berê" e "Gordinho da Saveiro", foi pago com recursos da Lei Rouanet que deveriam ser revertidos para o projeto "Caminhos Sinfônicos", segundo investigação da Polícia Federal.

O músico, que cobra cachê de R$ 50 mil a R$ 70 mil por evento, animou o casamento de Caroline Monteiro e Felipe Amorim, no último dia 22 de abril, em Florianópolis (SC).

O noivo é filho de Antonio Carlos Bellini Amorim, detido nesta terça-feira (28) e principal alvo da operação Boca Livre, deflagrada pela Polícia Federal.

Ainda de acordo com a PF, vários outros projetos culturais tiveram verba desviada pela Bellini Eventos Culturais para custear o rega-bofe de Felipe.

O empresário do sertanejo Leo Rodriguez, Hermann Motta, afirmou que não tinha conhecimento de como a festa foi financiada e que o contrato com seu cliente foi firmado "como em qualquer outro evento".

'DESTINATION WEDDING'

Embora radicados em São Paulo, os noivos optaram por um "destination wedding" para 120 convidados em Jurerê Internacional –loteamento ao norte de Florianópolis que atrai pessoas de "classe A que gostam de ostentar, mas com exclusividade", nas palavras do gerente de um empreendimento da área.

O local escolhido pelo casal foi o beach club 300 Cosmo, que se autodescreve como "balada chique em ambiente contemporâneo com cozinha fina". A casa cobra R$ 300 por convidado.

assista

Imagens publicadas por convidados em redes sociais mostram comemorações que antecederam a festa e as preparações dos noivos e padrinhos para o matrimônio.

Um vídeo do casamento foi anexado ao inquérito policial. "Achamos que tivessem sido contratados modelos para fazer o vídeo, mas não, eram os convidados tomando champanhe", disse o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em coletiva de imprensa sobre a Boca Livre.

Além do cantor sertanejo, serviços como bufê, iluminação e decoração foram faturados em nome de projetos culturais, segundo a PF.

A investigação aponta que os fornecedores não têm nada a ver com o esquema, mas que foram convencidos a emitir notas fiscais em nome dos projetos que os organizadores dos casamentos indicavam.

Profissionais envolvidos no casamento que preferiram não se identificar disseram à Folha que os nubentes escolheram Jurerê Internacional por considerarem o local "exuberante".

Segundo eles, não havia ninguém da cidade entre os convidados. Além de beach clubs, o Jurerê Internacional reúne hotéis e um shopping a céu aberto.

Os donos dos bares da região estão em disputa com a Justiça. No dia 10 de junho, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região determinou a demolição dos beach clubs instalados na praia por "oferecem risco de dano irreparável ao ambiente".

Colaborou JEFERSON BERTOLINI, em Florianópolis


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