Folha de S. Paulo


A 38 dias da Olimpíada, programação cultural ainda é uma incógnita

A 38 dias do início da Olimpíada do Rio, a programação cultural paralela aos Jogos é uma incógnita.

Até o afastamento da presidente Dilma Rousseff, em maio, havia uma extensa lista de eventos bancados com recursos públicos federais. A troca de governo deixou produtores, instituições e artistas em uma espécie de limbo.

Já há ao menos uma programação da Prefeitura do Rio (veja destaques abaixo).

Estava em negociação com a gestão de Juca Ferreira o repasse de R$ 85 milhões do MinC (Ministério da Cultura), dos quais cerca de R$ 70 milhões iriam para apresentações nos intervalos ou no fim das competições, segundo o diretor-executivo de comunicação da Rio-2016, Mario Andrada. "Era uma maneira de entreter quem estivesse na arquibancada e evitar que muita gente deixasse as arenas ao mesmo tempo, causando congestionamento", diz.

Ilustração Cidic
Ilustração Cidic

Esse valor, conta, foi cancelado pela gestão de Marcelo Calero, que assumiu o MinC em maio, após o órgão ter sido extinto e depois recriado pelo governo Temer. "O projeto não caiu, está sendo revisto e certamente será reduzido", diz Andrada.

Ele também confirma que o Comitê Rio-2016 desistiu de captar R$ 79 milhões via Lei Rouanet para as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, além de outros R$ 11 milhões para os similares da Paraolimpíada.

O volume de produção, diz Andrada, encontraria entraves burocráticos da lei. "A prestação de contas da lei precisa ser ultra bem-feita, e a cerimônia tem um problema na quantificação. Vamos supor que ela abra com [a encenação de] uma revoada de abelhas: eu precisaria de 24 mil asas de abelhas. Você vai prestar conta de tudo isso?". A opção passou a ser o patrocínio direto.

Também se previu um orçamento, entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões de recursos privados, para programação de rua. O valor acabou reduzido para os custos operacionais, em torno de R$ 2 milhões. "Garantimos a programação com parcerias diversas", afirma Andrada. Os horários das atrações, no entanto, não serão divulgados. Andrada diz que o perfil do projeto era esse mesmo antes dos cortes. "Não queríamos um calendário de grandes shows, queríamos algo que ocorresse como flashmobs", diz. "Se você viu, você viu, se não viu, não vai ver mais", diz.

A Fundição Progresso (espaço cultural do Governo do Estado do RJ hoje sob custódia privada) e a Funai (Fundação Nacional do Índio) informaram que o MinC não repassou nenhuma verba prevista. As duas instituições eram consideradas peças centrais da programação.

O projeto dedicado à Fundição Progresso estava orçado em R$ 10,4 milhões (via Funarte). "A gente vem se dedicado a planejar, orçar, montar a programação, são 60 dias consecutivos de programação, mas não temos ainda nem o contrato assinado", diz Vanessa Damasco, diretora de produção do evento dos Jogos.

"Estamos em pânico, porque o tempo está passando, não tenho como assinar contratos com meus fornecedores. Eles [o MinC] estão fazendo uma averiguação que ignora o nosso ponto de vista."

Segundo o MinC, há questões jurídicas a serem analisadas. "Parte dos investimentos previstos pela antiga gestão da Funarte estava superdimensionado e incluía a realização de obras estruturais em equipamentos sob custódia privada [a Fundição Progresso], com destinação de volume excessivo de recursos para um único projeto", disse o órgão em nota.

Segundo Vanessa, foram programadas benfeitorias como troca de calhas, revisão no telhado, pintura e equipamentos para o teatro.

O MinC culpa a gestão anterior pelos atrasos. Segundo o órgão, a verba de R$ 85 milhões para a Olimpíada foi assegurada apenas em janeiro, com a edição de uma medida provisória. "Parte do orçamento foi transferido para as secretarias e instituições vinculadas, mas, devido a um planejamento deficiente, menos de R$ 12 milhões foram efetivamente desembolsados", informou o MinC.

Segundo o texto, "a atual gestão do Ministério da Cultura está finalizando um relatório de gestão emergencial para avaliar, de forma técnica, o trabalho realizado até aqui", e o resultado será divulgado nos próximos dias.

Também por nota, a assessoria do ex-ministro Juca Ferreira disse que "no momento em que a gestão foi interrompida [...], o cronograma de contratações estava em dia, sem comprometimento de qualquer atividade".

Segundo o texto, "todas as informações necessárias, a documentação dos processos e o desenho jurídico das contratações foram apresentados em relatório de gestão preparado para que não houvesse descontinuidade".

O empenho dos recursos, prossegue a nota, "também seguia cronograma seguro, diretamente relacionado com as contratações artísticas e de produção. Cerca de R$ 70 milhões já haviam sido repassados às unidades finalísticas responsáveis pela realização das atividades."

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CULTURA EM JOGO
Destaques confirmados da programação

British House
Caracterizado pela sede construída no século 19 com arquitetura em estilo romano, o Parque Lage receberá a delegação do Reino Unido. A programação será relacionada à cultura do Reino Unido, incluindo exposições e eventos esportivos.
QUANDO 3 a 21 de agosto
ONDE Parque Lage (r. Jardim Botânico, 414, tel. 21-3257-1800 )
QUANTO preços não divulgados

Cia de Dança Deborah Colker
A coreógrafa e seu grupo de dança e circo apresentam três espetáculos.
QUANDO 18 de julho a 14 de agosto ("Velox"), 21 de julho a 18 de setembro ("VeRo") e 15 de agosto a 18 de setembro ("Rota")
ONDE Teatro João Caetano (pça. Tiradentes, s/nº, Centro)
QUANTO R$ 25 a R$ 40

Sankai Juku
A Cidade das Artes receberá a companhia de butô, dança minimalista japonesa que se desenvolveu no período do pós-Guerra, com o espetáculo "Meguri".
QUANDO 16 e 17 de julho, às 21h
ONDE Cidade das Artes (av. das Américas, 5.300, tel. 21-3325-0102)
QUANTO R$ 50 a R$ 150

Orquestra Sinfônica Brasileira
O conjunto faz diversas apresentações no período, entre elas o concerto com participação do compositor e DJ Mason Bates (que une músicas eletrônica e acústica), e a série Safira, que inclui trilhas sonoras de filmes.
QUANDO 2 de julho, 27 de agosto e 24 de setembro, às 21h (Safira); 3 de setembro (Mason Bates), às 16h
ONDE Cidade das Artes (av. das Américas, 5.300, tel. 21-3325-0102)
QUANTO R$ 20 a R$ 100

Casa França-Brasil
Encomendado em 1819 por D. João 6º ao arquiteto Grandjean de Montigny, o palacete vai receber programação da delegação finlandesa. Ainda não divulgada, deve incluir exposições de arte e design, além de salas para exibição dos jogos.
QUANDO não divulgado
ONDE r. Visconde de Itaboraí, 78, tel. 21-2332-5120
QUANTO preços não divulgados

Boulevard Olímpico
Com cerca de 1 km de extensão e abrangendo o parque Madureira e a praça 15, o boulevard receberá diversas atrações, como a Roda de Samba da Pedra do Sal, a banda recifense Allen jerÔnimo & a Rave de Raiz e o Sexteto Sucupira
QUANDO 7 de agosto (Roda de Samba da Pedra do Sal), 11 de agosto (Allen jerÔnimo) e 14 de agosto (Sexteto Sucupira), sempre às 16h
QUANTO grátis

Programação sujeita a alterações

Mais informações no site municipal


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