Folha de S. Paulo


'O Caseiro' testa pé atrás do Brasil com seus próprios suspenses sobrenaturais

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O brasileiro até acredita em fantasmas, mas ainda não bota fé nos que falam português.

Enquanto a menina possuída do americano "Invocação do Mal 2" já arrastou mais de 2 milhões de pessoas para as salas de cinema do Brasil em somente duas semanas, os longas nacionais de suspense sobrenatural não passam da barreira dos 100 mil (leia mais no box abaixo).

"O Caseiro", do paulista Julio Santi, estreou na quinta (23) com a tarefa de testar o pé atrás do brasileiro com as suas próprias assombrações.

O longa estreia com uma desvantagem: entrou em cartaz em 61 salas ante as 866 do concorrente estrangeiro. Mas segue o receituário do gênero: trama de mistério, mortes suspeitas, sítio no meio do nada e crianças que são o elo com o mundo sobrenatural.

"O exibidor aposta muito no que é certo. E o gênero de suspense no Brasil ainda precisa ser explorado", afirma Rita Buzzar, produtora de longas de época como "Olga" (2004) e "O Tempo e o Vento" (2013), que se arrisca no novo gênero com "O Caseiro".

Rita diz que o público tem descrença nesse tipo de produção nacional. "Ainda acham que não somos capazes."

Divulgação
A atriz Malu Rodrigues em cena do filme
A atriz Malu Rodrigues em cena do filme "O Caseiro", de Julio Santi

Produtora autoral que já enveredou pelo sobrenatural em "Trabalhar Cansa" (2011), Sara Silveira crê que o problema é a "falta de hábito" com o gênero, não só do público, mas também de distribuidores.

"Não são filmes como a comédia, que tem aceitação em mais faixas de idade. É longa de nicho", afirma Sara, que no ano que vem irá lançar "As Boas Maneiras", outra obra que flerta com o sobrenatural e dos mesmos diretores de "Trabalhar Cansa": Juliana Rojas e Marco Dutra.

CONTRA SUSTO GRATUITO

Diretor de "O Caseiro", Julio Santi ingressou no gênero fantástico porque se diz fã dos thrillers paranormais que pulularam na virada dos anos 1990 para os 2000, caso de "O Sexto Sentido", "Revelação" e "Os Outros". Seu filme, aliás, guarda muitos elementos desse segundo, dirigido por Robert Zemeckis.

Na trama de "O Caseiro", um cético professor de psicologia (Bruno Garcia) é chamado a solucionar os fenômenos anormais num sítio distante.

Outsider do mundo do cinema –Santi cursou letras e escrevia sobre teatro–, o diretor de 29 anos afirma que aprendeu o ofício de forma autodidata, à base de bibliografia de cursos universitários, e rodando vídeos institucionais para pagar contas.

"Hoje tem muito filme de susto gratuito. Eu gosto é daqueles em que a tensão está com aquilo que não se vê", diz o diretor, que escreveu a primeira versão do roteiro "um pouco por esporte".


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