Em "O Caseiro", Bruno Garcia é Davi, professor universitário que publicou um livro chamado "Psicologia do Sobrenatural". Ele discute com os alunos a possibilidade da aparição de fantasmas. A jovem Renata (Malu Rodrigues) vai procurá-lo após a aula, dizendo ter lido o livro e precisar de ajuda. Ele diz a ela: "Você não é minha aluna, meus alunos não leem nada".
A essa altura, ainda não sabemos se o humor fará parte da trama. O que vem depois, contudo, está mesmo nos domínios do cinema de horror.
A verdade é que "O Caseiro" exibe técnica em cada fotograma, o que não é necessariamente ruim, pois temos uma perfeita adequação com o mistério: uma menina (irmã de Renata) exibe feridas sem que ninguém tenha se aproximado dela. Suspeita-se que é coisa do fantasma do caseiro.
A direção de Julio Santi é correta, quase acadêmica, com boa noção de ritmo e eficiente utilização do espaço –fundamental para se alcançar a atmosfera de suspense.
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Cena do filme "O Caseiro", de Julio Santi |
O uso de reflexos (na água, em espelhos etc.) reforça a sensação de um mundo paralelo (o além), que parece ameaçar os humanos com seus desejos misteriosos.
O roteiro, escrito pelo próprio diretor e por João Segall, estrutura-se segundo velhos códigos do gênero: protagonista cético, crianças na fronteira entre a culpa e a vitimização, pessoas tendo reações tolas, familiares misteriosos (destacam-se Denise Weinberg e Leopoldo Pacheco).
O filme cai consideravelmente nos minutos finais, quando as ações se sucedem de maneira meio atabalhoada, como se algumas peças estivessem perdidas. Provavelmente é um problema de roteiro, que a direção consegue contornar parcialmente.
No geral, "O Caseiro" é acima da média, uma experiência interessante de um gênero muitas vezes mal visto e mal compreendido por aqui.