Folha de S. Paulo


Logo personalidade contará mais que forma, diz 'plus size' masculino

Um modelo como Zach Miko? Você nunca viu mais gordo. São 125 kg para 1,98 m. Só a cintura equivale ao bumbum de Valesca Popozuda: 107 centímetros, 30 a mais do que a circuferência do colega sensação Marlon Teixeira.

Se essas medidas lhe renderam "todo tipo de insulto" no passado, hoje valem um contrato na IMG, a agência da top Gisele Bündchen.

Miko, 26, de certa forma é a "Gisele" de um nicho que começa a ganhar força: modelos masculinos "plus size".

Depois de passarelas com mulheres em mais carne do que osso, a IMG criou uma divisão só para eles. O ex-escoteiro Zach é o primeiro nome.

A diversidade é exceção no elenco da casa, quase sempre branco, magro e jovem –também destoam a idosa Maye Musk, a transgênero Hari Nef e Jillian Mercado, com distrofia muscular.

Mas Miko está confiante de que um dia nem haverá necessidade de opor "plus size" ao suposto "normal". "Logo, modelos serão celebrados por sua personalidade, e não pelo tamanho da cintura."

JD Barnes
O modelo 'plus size' norte-americano Zach Miko, de 26 anos
O modelo 'plus size' norte-americano Zach Miko, de 26 anos

Até porque ele representa o corpo americano melhor do que qualquer colega na IMG: mais de dois terços da população dos EUA está acima do peso, segundo o governo (a média global é 13%).

Assim que terminou o colégio, Miko decidiu ser ator. Até aparece, num nanosegundo, como figurante em "O Lobo de Wall Street" ("você pode me ver zanzando e atendendo telefones em algum canto").

Mas ambições maiores eram freadas, conta à Folha. "Quase todo produtor de Nova York me mandou perder peso se quisesse uma carreira."

Passou o conselho e, em 2015, "muito feliz" com seu físico, estrelou uma campanha da Target, marca popular. Daí para a IMG foi um passo.

Hoje, vive sob um mantra: "A maioria dos homens querem ser o Hugh Jackman. Eu quero ser o John Goodman".

Ao trocar Wolverine por Fred Flintstone, dois papéis clássicos desses atores, Miko virou ícone do Chubstr, site criado por Bruce Sturgell, 36.

O nome é um trocadilho com "chubby", gordinho em inglês. O que Sturgell é "com orgulho". "'Plus size', ossos largos, cheinho, gordo. Pra mim, são só palavras. Começamos a nos apropriar de expressões tradicionalmente usadas contra nós."

TODAS AS DIETAS

Para Miko, nem sempre foi divertido ser o maior cara da sala. Aos 13, já grandalhão, teve aval dos pais para malhar e fazer dieta. "E todas que você pode imaginar. Vigilantes do peso, Atkins, South Beach. Mas nunca estava feliz com nenhuma delas."

Hoje os níveis de serotonina não são mais problema –assim como seu passado. Em março, publicou no Instagram uma foto em que aparece bochechudo, de aparelho dental e adepto da moda dos anos 1990. Legenda: "Para quando estilo, para mim, significava camisas de poliéster com estampa de dragões".

Quando virou o primeiro homem "plus size" da IMG, defendeu que adolescentes como o que já foi um dia (sem o poliéster, ok) cresçam cientes de que podem estrelar campanhas de moda. "Quero que vejam um modelo e pensem: 'Ele é tipo eu'", disse à "Vogue" na época. "Não é assim que muitos do meu tamanho se sentem na juventude."

Ele se define como o "sujeito normal". "Posso ser bartender, carpinteiro, escoteiro. Tenho contas a pagar. Isso significa que a indústria enfim está se abrindo para todos."

Quando é preciso, o "cara legal" compra brigas. Assim o fez quando a American Eagle Outfitters lançou um anúncio com vários tipos de homem, dos magrelos aos barrigudos.

A celebração da "positividade corporal", contudo, era só uma pegadinha de 1º de abril. Logo a marca explicou que a verdadeira intenção era anunciar que abandonaria fotos retocadas no Photoshop.

"Temos de criticar empresas que menosprezem um grupo para tentar vender. Já evoluímos para não sermos mais a criança malvada no recreio."


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