Folha de S. Paulo


Filho de Bowie lança 'Warcraft' e conta como o pai o ensinou a fazer cinema

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Duncan Jones, 45, seguia sua carreira de cineasta de forma discreta. Ganhou destaque com o longa de estreia, a ficção científica minimalista "Lunar" (2009), pelo qual ganhou o Bafta, o Oscar inglês, de revelação.

Em seguida, fez o thriller de ficção científica "Contra o Tempo", que teve um orçamento de US$ 32 milhões e rendeu US$ 147 milhões.

O currículo o levou para a cadeira de comando de "Warcraft", adaptação de US$ 160 milhões de um dos videogames mais populares da história. Anunciado há dez anos, o projeto estava parado até há pouco. O filme estreia no Brasil nesta quinta-feira (2), mas Jones não é apenas um diretor em ascensão.

Foi ele, em 10/1/2016, que confirmou oficialmente ao mundo a morte do seu pai, David Robert Jones, mais conhecido como David Bowie.

ZOWIE

Duncan Zowie Haywood Jones sempre teve uma relação próxima com o pai e tumultuada com a mãe, Angie Bowie, 66, modelo de quem Bowie se separou em 1980. Desde 1984, quando tinha 13 anos, Duncan não fala com ela.

Zowie –como era chamado até requisitar ser chamado de Joe e, finalmente, assumir o nome Duncan– acompanhava Bowie nas turnês pelo mundo. "Viajava com ele para diversos lugares, como Berlim, Suíça, Londres e Japão, e sempre tinha um livro ou um filme de fantasia e ficção científica. Eram meus companheiros de viagem", conta Jones à Folha.

Recorda que sua paixão por ficção científica teve forte influência do pai, que passava tardes na Suíça –onde moraram por algum tempo– mostrando filmes como "Metrópolis" (1927) e "Laranja Mecânica" (1971).

Bowie até tentou levar o filho para sua área, sem sucesso. "Meu pai, obviamente, fazia música. Mas eu não tinha uma facilidade natural ou interesse nisso. Não conseguia tocar nenhum instrumento", confessa o cineasta.

Bowie, que teve sua parcela de namoros com o cinema, atuando em longas como "O Homem que Caiu na Terra" (1976) e "Fome de Viver" (1983), notou a inclinação do filho e o incentivou.

"Foi uma paternidade muito nutritiva a que recebi", conta Jones. "Cresci fazendo curtas e desenhos em stop-motion com o apoio do meu pai. Ele adorava esse meu interesse e me deu todo o suporte. Me ensinou a usar uma câmera 8 mm, como iluminar, usar a moviola, filtros. Eu cortava meus filmes em casa e depois que ele me ensinou a usar o projetor, exibia para todos verem. Ele sempre me passou muita confiança, então o passatempo virou algo sério."

Segundo Jones contou ao site "The Daily Beast", Bowie assistiu "Warcraft" numa versão sem efeitos especiais finalizados e ficou "feliz".

VIDEOGAMES

Adolescente, Duncan matava tempo colecionando joguinhos. "Comecei com o Atari, mas tive o Commodore 64, Amiga, jogos para PC..."

"Cara, eu fico muito magoado quando sai um longa adaptando um game e não é bom. Não vou generalizar as razões de não terem dado certo, mas você precisa saber o que deseja de um filme e não apenas colocar os elementos do jogo na tela", acredita.

O longa está dividindo os críticos, mas teve uma estreia acima do esperado fora dos Estados Unidos (onde é lançado na próxima semana). Em 19 países alcançou o topo da bilheteria, rendendo US$ 31 milhões no primeiro fim de semana. "Vamos ver a aceitação dos fãs, mas se der certo, quero fazer uma sequência", diz.

Ao mesmo tempo em que seu épico chega aos cinemas, Duncan Jones fará outra estreia, agora como pai. Sua mulher, a fotógrafa Rodene Ronquillo, exibia a barriga de oito meses observando a entrevista do marido, que possui os olhos e o sorriso do pai, apesar de escondê-lo sob a barba.

"Eu sabia que queria ter filhos, mas não imaginei que aconteceria essa sincronia maluca", brinca ele, sempre simpático. "Mal posso esperar para trocar fraldas e ter cocô de bebê em cima de mim."


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