Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Em novo disco, Eric Clapton mostra que ainda faz diferença

Bob Dylan, por décadas o porta-voz de sucessivas gerações, grava mais um álbum de músicas (e letras) de outros, uma inusitada fase crooner. Já Eric Clapton retoma a cartilha seguida em alguns de seus grandes discos. E se sai muito bem.

"I Still Do" (eu ainda faço) é o 23º disco do guitarrista inglês, e o título é apropriado. Clapton ainda faz a diferença na cena do blues e do rock.

Numa carreira tão longa, ele teve altos e baixos (estes muitas vezes por culpa de heroína), mas carrega uma fileira de álbuns magistrais.

Eles se dividem em dois tipos. Clapton parece motivado ao lado de amigos, como em seus álbuns com o trio Cream, nos anos 1960, "Layla and Other Assorted Love Songs" (1970), com Duane Allman, e "Riding with the King" (2000), com B.B. King.

Mas, sozinho, gravou discos em que aplicou seu dedilhado suave a um repertório de compositores favoritos e estabeleceu um imbatível padrão de qualidade ao blues.

Um desses é "Slowhand", de 1977, produzido por Glyn Johns. E é com ele que Clapton volta a trabalhar agora.

A lista de compositores soa familiar. Ao lado de canções próprias, Clapton toca Dylan safra 1967, "I Dreamed I Saw St. Augustine", e versão arrepiante de "Stones in My Passway", composta em 1937 por seu mestre Robert Johnson.

Ele inclui duas canções de J.J. Cale, o autor de "Cocaine", celebrizada em "Slowhand". Talvez sejam as mais animadas: "Can't Let You Do It" e "Somebody's Knocking".

Eric Clapton - I Still Do (CD)
Eric Clapton
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Além dessas, a faixa essencial para compreender a genialidade de Clapton é a lenta e envolvente "Little Man, You've Had a Busy Day".

Espécie de música de ninar, foi escrita em 1934 por Maurice Sigler, Al Hoffman e Mabel Wayne –ela é considerada a primeira mulher a compor uma canção de sucesso na história da música americana.

Os talentos inegáveis de Clapton são derramados em faixas como essa. A voz pequena, mas grave e bem colocada. A reverência carinhosa a velhos mestres. E, claro, o jeito encantador e único de tocar guitarra, algo que sempre fez como se fosse a coisa mais fácil do mundo. E ainda faz.

I STILL DO
ARTISTA Eric Clapton
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