Folha de S. Paulo


Após adiar a estreia de 'Escrava Mãe' 4 vezes, Record inaugura nova faixa

Antes de apresentar um trecho do primeiro capítulo de "Escrava Mãe" à imprensa, o vice-presidente artístico da Record, Marcelo Silva, resolveu contar alguns dos motivos que levaram a emissora a adiar por quatro vezes, nos últimos meses, a estreia da produção.

Prevista inicialmente para suceder "Os Dez Mandamentos", em novembro, a novela de época de Gustavo Reiz, inspirada em "A Escrava Isaura", romance de Bernardo Guimarães (1825-1884), agora estreará na faixa das 19h na Record, horário até então ocupado pelo programa policial "Cidade Alerta".

E terá seu primeiro capítulo exibido no mesmo dia e hora em que a Globo colocará no ar a novela "Haja Coração": na terça-feira, dia 31.

"Adiamos inicialmente 'Escrava Mãe' porque o [departamento] comercial nos alertou que o mercado já estava com a verba publicitária comprometida. Fizemos isso sem esperar que a outra casa [Globo] tivesse um sucesso tão grande. Parabéns à outra casa", declarou Silva, referindo-se à novela das 19h "Totalmente Demais", atualmente a maior audiência da Globo e que chega ao fim nesta segunda-feira (30).

Depois, segundo o executivo, para surpresa da Record, "a outra emissora, inteligentemente, decidiu adiar o dia final lá, e nós também adiamos a nossa história aqui".

Com o ibope de "Totalmente Demais" acima dos 31 pontos em SP —na terça (24), bateu seu recorde com 35,5 (cada ponto equivale a 197,8 mil espectadores)—, a Globo esticou a trama por mais duas semanas. O fim, que ocorreria em 11/5, passou para 27/5 e depois para o dia 30.

A emissora paulista seguiu o cronograma da concorrente e optou por disputar o público desde o capítulo 1 com "Haja Coração". Para Silva, a concorrência pede inteligência às empresas. "As emoções têm que dar lugar ao raciocínio."

Já o autor Reiz acha desafiador estrear um horário na Record quando a Globo leva ao ar um novo produto. "Essa competição é boa para o mercado, para o público. Temos novelas completamente diferentes, o telespectador poderá escolher", diz.

Ivan Zettel, diretor de "Escrava Mãe", afirma que "a cada primeiro passo", como o de lançar a nova faixa de novelas, paga-se um preço.

"Estamos buscando público novo e, se puder, vamos buscar nas duas concorrentes pessoas que se interessem pela nossa história", conta. "É uma novela para a família."

Com 140 capítulos previstos inicialmente, cada um deles orçado em R$ 350 mil, o folhetim de época já está totalmente gravado. A produção da Casablanca, feita em tecnologia 4K, foi a primeira a ser terceirizada pela Record.

MÃE DE ISAURA

Tia Joaquina (Zezé Motta) conversa com Juliana (Gabriela Moreyra) em tom professoral e avisa: "Vida de negro é difícil, mas toda história tem dois lados. Mesmo nas histórias tristes há beleza, um pedacinho de amor, esperança".

Daquele papo em uma fazenda o telespectador é levado para uma tribo de Angola, em 1789. Lá, verá o casamento de Luena (Nayara Justino) e Kamau (Marcelo Batista) ser interrompido por um traficante de escravos que prende todos. No navio negreiro rumo ao Brasil, o algoz Osório (Jayme Periard) estupra Luena, e ela fica grávida.

Corta para 1808, no Brasil. A criança nascida é Juliana, que agora ouve sua história. É assim que começa "Escrava Mãe", protagonizada por Gabriela e pelo ator português Pedro Carvalho. Ele vive Miguel, jovem estrangeiro que se apaixona pela escrava.

A novela mostrará os horrores da escravidão, com cenas de violência, mas o foco não será este, segundo o autor. A trama também terá comédia pastelão, com torta na cara, como as que devem dominar a novela global, em um núcleo que conta com Jussara Freire e Cassio Scapin.

"Não quisemos abordar a escravidão de maneira sensacionalista, valorizando castigos, mas sim os sentimentos. São histórias de amor, de pessoas que viviam naquelas condições", explica Reiz. "Temos vilões com muita maldade, mas é bom ver o bem triunfar."


Endereço da página:

Links no texto: