Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Metamorfose do Rio ganha narrativa fluida em documentário

Reprodução
Cena do documentário
Cena do documentário "São Sebastião do Rio de Janeiro - A Formação de uma Cidade"

O ponto de vista deste documentário sobre o Rio de Janeiro parte de uma opção explicitada no próprio título: enfatiza a formação da cidade. Isso é entendido essencialmente sob os aspectos urbanístico e arquitetônico da antiga capital do país. O aspecto social aparece pontualmente.

O processo de formação é apresentado cronologicamente e começa antes de 1565, ano da fundação da cidade, que ocorreu como reação de Portugal ao interesse da França por aquela região.

A ocupação do espaço e as mudanças do cenário urbano são apresentadas com clareza didática que nada tem de enfadonha. Contribuem para isso o ótimo texto do jornalista Carlos Haag —com locução da apresentadora de TV Leilane Neubarth— e uma iconografia muitíssimo bem cuidada.

Além de farto material de arquivo composto por fotos e filmes vindos de instituições brasileiras e estrangeiras, a diretora Juliana de Carvalho usou imagens feitas a partir de barcos, drones, helicópteros e automóveis. A variedade de pontos de vista confere um dinamismo muito importante para a fluidez da narrativa.

Mas o mais inovador em relação à parte visual são as imagens computadorizadas que recriam vários momentos do Rio do passado mais longínquo e por isso menos documentado pela iconografia tradicional. As simulações em 3D são primorosas.

Se as imagens de cartão-postal são inevitáveis, o documentário abre espaço para outras paisagens menos glamorosas, destacando, por exemplo, o papel das linhas de trem —que surgiram para ligar as plantações de café ao porto— na expansão da cidade rumo aos subúrbios.

As transformações urbanísticas, planejadas ou não, são apresentadas com detalhe, assim como a história de marcos arquitetônicos da cidade. A locução é complementada por comentários de 13 personalidades fortemente identificadas com a cidade, como o compositor Nei Lopes, o arquiteto Lauro Cavalcanti, o escritor Ruy Castro, a antropóloga Alba Zaluar e a arqueóloga Tânia Andrade Lima.

Outro aspecto que não foi negligenciado é a trilha sonora, pois o Rio é a cidade mais musical e mais cantada do país. A seleção das músicas não cai no óbvio e contempla um vasto arco de autores e épocas —de Francisco Alves a Luiz Melodia— configurando um painel cultural que só enriquece o conjunto.

Tudo caminha muito bem até a narrativa atingir as primeiras décadas do século passado. A partir daí o ritmo fica acelerado e a exposição das mudanças se torna superficial. Pior do que isso é a pouca importância dada a problemáticas como as favelas e a omissão a respeito das intervenções feitas na cidade para a Copa e a Olimpíada, pautadas pela privatização do espaço público, que removeram à força populações pobres.

"SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO - A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE"
DIREÇÃO Juliana de Carvalho
PRODUÇÃO Brasil, 2015
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO bom 


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