Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Autor se esconde sob pseudônimo feminino em trama policial clichê

O verdadeiro mistério do romance "Esta Terra Selvagem" não está em sua frágil trama policial, nem na verdadeira identidade do escritor ou da escritora que assina o livro com o pseudônimo Isabel Moustakas.

Se há algo aqui que merece ser decifrado é por que uma obra assim recebe a distinção dessa assinatura "fictícia".

Se for apenas uma jogada de marketing, a criação de um "fato" para vender mais, ela tende a se esgotar rapidamente, assim que ficar claro para os leitores que o volume conta uma história igual a inúmeras outras que estão por aí, com a mesma linguagem banalizada, a mesma reiteração de clichês de enredo e de construção narrativa, o mesmo uso pretensamente chocante da violência.

Evidentemente também está descartada neste caso a hipótese de o material contido na obra ser tão explosivo ou surpreendente que colocaria o autor em algum tipo de situação delicada.

Divulgação
Esta Terra Selvagem - Companhia das Letras
Capa do livro "Esta Terra Selvagem", do pseudônimo Isabel Moustakas

EXPERIMENTO

Por outro lado, me parece igualmente implausível que se trate de algum experimento científico-editorial: alguns modelos seriam fornecidos a um computador e ele seria responsável por tudo...

Se se trata de um suposto autor importante testando a mão em outro gênero ou estilo, este resenhista impaciente e mal-humorado sugere fortemente que ele volte para a sua produção tradicional. Se, ao contrário, o escritor é um artista estreante, ainda com temor de assumir uma nova vocação, a sugestão é similar: continue na vocação anterior.

Enfim, é difícil entender as razões de um tratamento tão incomum, que deveria marcar algo especial, para uma obra tão comum.

ESTA TERRA SELVAGEM
AUTOR Isabel Moustakas
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34,90 (120 págs.)

ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.


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