Folha de S. Paulo


crítica

Diretor Ugo Giorgetti cria retrato irregular do 'medo' paulistano

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Com "Uma Noite em Sampa", Ugo Giorgetti dá sequência ao seu ousado projeto de compor algo que se poderia chamar etnologia paulistana: a abordagem da cidade, de seus habitantes e costumes.

Acompanhamos um grupo de ex-paulistanos, isto é, pessoas que deixaram a cidade em busca da "qualidade de vida" e segurança do interior.

Elas chegam a São Paulo num ônibus com a aparência de blindagem, acompanhados por uma guia, para uma noite que inclui teatro e jantar.

Estão, portanto, num ambiente de segurança absoluta. Eis que, à saída do teatro, o motorista do ônibus que os conduz desaparece.

Segue-se a fieira habitual de condenações: o culpado é o motorista, que deve ter enchido a cara, ou a guia, que deveria ter cuidado melhor disso. Mas achar culpados não resolverá a situação.

Divulgação
Cena do filme 'Uma Noite em Sampa', de Ugo Giorgetti
Cena do filme 'Uma Noite em Sampa', de Ugo Giorgetti

Sua noite segura na capital se transformará numa noite ao relento, à espera de que algo de bom aconteça e com o temor permanente de que algo de ruim ocorra. Esse é o paulistano em puro estado "datênico" (de Datena, o apresentador de TV), tomado por fantasmas de violência.

O desenvolvimento dessa ideia, no entanto, é bastante irregular. Primeiro porque o filme tem apoio forte nos diálogos, e esses nem sempre impulsionam a ação. Nem todo mundo é Beckett para escrever seu "Esperando Godot".

Segundo porque a liberdade que Giorgetti concede a seus atores termina por revelar uma diversidade de estilos que parece vir mais dos atores do que dos personagens.

Esses pequenos "desvios" da plenitude artística ervem apenas para afirmar Giorgetti como o autor brasileiro mais próximo de Renoir, para quem a perfeição era a coisa menos importante da obra. O importante era amar os seus personagens. E isso não falta a "Uma Noite em Sampa". (IA)

UMA NOITE EM SAMPA
DIREÇÃO: Ugo Giorgetti
ELENCO: Cris Couto, Otávio Augusto e Siomara Schröder
PRODUÇÃO: Brasil, 2016, 12 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (26)


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