Folha de S. Paulo


Show da Nação Zumbi, último da Virada, começa com protesto político

Diante de caranguejos gigantes num telão, símbolo do manguebeat, e cantando para uma praça Júlio Prestes abarrotada, a Nação Zumbi começou sem atrasos um dos últimos shows desta Virada Cultural, abrindo com a música "Defeito Perfeito".

No palco, Jorge du Peixe, vocalista da banda, disse que conversou com Criolo nos bastidores e que ele havia dito que a praça estava cheia de amor, um pretexto para cantar "Foi de Amor".

Ao cantar os primeiros versos de "Bossa Nostra", o cantor também levantou um retrato do presidente interino, Michel Temer, com uma tarja dizendo "a cara do golpe".

Pouco antes de começar a cantar "Hoje, Amanhã e Depois", e ao lado de integrantes da banda com cartazes dizendo "Temer jamais", o vocalista atacou o governo interino.

"Do cinismo ao sinistro. Estamos passando por uma frase de sinistro e isso depende de nós", disse Jorge du Peixe. "Fora, Temer. Não estamos apagados, estamos acesos. Hoje, amanhã e depois."

Um prédio de frente para a praça também ostentava numa das varandas uma enorme faixa dizendo "Temer jamais". Fãs sentados no parapeito acompanhavam o show, improvisando um camarote.

Turbinando o som carregado da banda, imagens sampleadas na hora pelo coletivo paulistano Embolex davam dimensão visual às letras, como a de "Cicatriz", acompanhada na tela por imagens do clássico do cinema surrealista "Cão Andaluz", de Luis Buñuel.

Na mesma pegada, "O Cidadão do Mundo" teve projeções de prédios em sucessão vertiginosa e rodas de carros e caminhões deslizando pela tela, um dos pontos altos do show, que fez o público cantar junto, de mãos erguidas para o alto, como um grito de guerra.

"Manguetown" arrancou a mesma reação apaixonada do público, mesmo as batidas graves às vezes afogando por completo os vocais, transformando a música numa massa amorfa indistinta e potente.

Depois de uma hora de show, Jorge du Peixe chamou o vocalista da banda suíça The Young Gods, Franz Treichler, para uma participação especial no show. Eles cantaram "Meu Maracatu Pesa uma Tonelada" —os dois grupos tocam juntos na semana que vem no Cine Joia, em São Paulo.

Histérica, entregando o que o povo gosta já na ressaca da Virada Cultural, a Nação Zumbi fechou uma das mais politizadas edições da festa paulistana.

Em sintonia com os gritos na praça, o show chegou ao fim com "Quando a Maré Encher", dos versos "fui na rua pra brigar, procurar o que fazer/ fui na rua cheirar cola, arrumar o que comer/ fui na rua jogar bola, ver os carros correr", seguida do clássico "Maracatu Atômico", que trouxe a chuva para a praça Júlio Prestes até então seca.

O coro "Temer jamais" puxado por Jorge du Peixe, fechou o show no momento em que a garoa engrossava.


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