Folha de S. Paulo


'Perdi um irmão', diz Ângela Maria em velório de Cauby Peixoto em São Paulo

Amigos e família velam, nesta segunda-feira (16), o corpo do cantor Cauby Peixoto, que morreu na noite deste domingo (15), aos 85 anos.

A cerimônia acontece no salão nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo, na zona sul da capital.

O corpo chegou ao local por volta das 9h. Empresária que morava com Cauby há 16 anos, Nancy Lara organizou o velório. Emocionada, ela conta que escolher uma roupa para o cantor foi o momento mais difícil, mas que resolveu vesti-lo como ele gostava de se apresentar.

"Pensei: 'Ele vai fazer um show no céu'. E foi assim que o vesti", diz.

Segundo Nancy, Cauby estava bem, mas teve uma piora súbita. Alegre, ele cantava suas músicas para os funcionários do hospital onde estava internado.

Os dois se conheceram nos anos 1980, quando ele convidou a fã para ir ao camarim de uma apresentação sua no Rio de Janeiro. Pouco antes ela havia entregado uma flor amarela para o ídolo, símbolo usado pelas fãs do cantor.

"Você me conquistou com uma flor", dizia Cauby à Nancy, segundo relato da empresária.

Ela afirma que o Brasil perde um pouco do glamour com a morte do astro. E conta que Cauby deixou um CD inacabado, para ser lançado no fim do ano, mas não soube dar detalhes.

Nancy agora espera também conseguir criar um memorial com o acervo de fotos, gravações, roupas e troféus deixado pela artista, o que ela tenta há anos, sem sucesso.

"Ele e Ângela Maria precisam [de um memorial para seus acervos]."

AMIGO IRMÃO

Amiga inseparável de Cauby há 67 anos, Ângela Maria chegou sob aplausos no velório.

"Eu não esperava que ele fosse tão cedo, queria que ele ficasse muito mais tempo. Perdi não só um amigo, mas um irmão", lamenta a cantora.

"Cauby era mais alegre no palco do que fora. Fora, ele falava pouco. Era uma pessoa que não abria a boca para falar mal de ninguém. Ele achava todo mundo maravilhoso."

Segundo ela, Cauby já demonstrava não estar bem no último show que fizeram juntos, no último dia 3, no Theatro Municipal do Rio.

"Perguntei se ele estava bem, ele disse que sim, mas não estava. No palco notei que ele estava muito mal, bem fraquinho."

A empresária Lilian Gonçalves, filha do cantor Nelson Gonçalves, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), o ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e seu filho, o cantor Supla, também estão presentes.

"Era a pessoa mais glamurosa que eu conheci. Era uma figura de poucos, mas bons amigos. Nunca vi um deslize do Cauby", diz Lilian, amiga do cantor há 45 anos.

"Cauby deixa uma marca muito grande como cantor, fiquei muito triste com a notícia", afirma Marta. "Apesar de ser carioca, ele tinha uma cara muito paulista."

"Quisera eu ter cantado com ele 'Conceição'. Acho que o povo brasileiro o amava muito, porque ele nos deu muitas alegrias", avalia Suplicy, antes de dar uma canja da música.

"Muita gente não sabe que Cauby cantou o primeiro rock do Brasil", lembra Supla. "Era um cara com influência dos grandes cantores, Nat King Cole, Frank Sinatra e Nelson Gonçalves. Tinha uma voz muito aveludada, muito bonita mesmo."

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Cerca de 100 pessoas fizeram uma roda de oração pelo artista durante o velório. Também cantaram em coro a música "Conceição", lançada por ele em 1956. O cantor Agnaldo Timóteo, também presente, cantou "Nossa Senhora".

O enterro está previsto para acontecer a partir das 17h, no cemitério Congonhas, também na zona sul, onde a família de Ângela tem jazigo, informou o marido da artista.

SONHO COM O ÍDOLO

Alguns fãs também foram ao velório para se despedir do cantor. É o caso da dona de casa Maria Carone, 73, que acompanha a carreira do artista desde os anos 1950.

"Ouvi pela primeira vez no rádio, a voz dele me fascinava", lembra. "Ele me beijava na boca sempre, era normal. Ele sabia que eu nunca fui atrevida."

A maior loucura que Maria fez pelo ídolo foi há dois anos, quando não resistiu e subiu no palco para beijá-lo. Uma foto no celular da filha, Sandra —que, criança, vestia uma peruca cacheada e imitava Cauby pela casa— mostra Maria dando bolo na boca do intérprete, no seu aniversário, no dia 10 de fevereiro.

A dona de casa conta ainda que sonhava com Cauby com frequência. E que, às vezes, ia a um show e descobria estar vestida como ele.

"Sonhei com Cauby a noite inteira, com ele se despedindo de mim", emociona-se. No velório, ela deu o último beijo em seu ídolo.

Um dos maiores cantores brasileiros há quase sete décadas, Cauby estava internado desde o último dia 9 no hospital Sancta Maggiore, na zona oeste de São Paulo, com um quadro de pneumonia, informou sua assessoria.

No início de 2015, o cantor chegou a cancelar, devido a problemas de saúde, sua participação no espetáculo "Falando de Amor", em São Paulo.

Ao lado de Ângela, ele estava em turnê pelo Brasil com o show "120 Anos de Música". No repertório, baseado no disco "Reencontro", músicas que marcaram as trajetórias dos dois artistas, como "Vida de Bailarina", "Gente Humilde" e "Bastidores".

Eles fariam uma apresentação no Sesc, neste fim de semana, em ocasião da Virada Cultural na capital paulista.

Cronologia - Cauby Peixoto


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