Folha de S. Paulo


Shia LaBeouf roda os rincões pobres dos EUA em 'American Honey'

Divulgação
Cena de
Cena de "American Honey", com Shia LaBeouf

Desta vez o ator Shia Labeouf não deu escândalo. Não largou a coletiva de imprensa, não se irritou e também não apareceu portando qualquer saco de papelão que encobrisse a cara. Ainda assim, foi monossilábico e ligeiramente irritado no encontro com jornalistas após a exibição do filme em que ele atua, "American Honey", na competição do Festival de Cannes.

No longa, dirigido pela inglesa Andrea Arnold (de "Aquário"), ele vive o integrante de uma trupe de jovens sem rumo que vagam por estradas dos Estados Unidos ganhando trocados pela venda de assinaturas de revistas. A protagonista é Star (a estreante Sasha Lane), adolescente que deixa o pai alcoólatra e os irmãos crianças para partir com os garotos.

Percorrendo o interior do país numa van, hospedando-se em motéis de beira de estrada, ela se depara com toda a sorte de gente que vive nos rincões da América: os caubóis "red necks", os caipiras neopentecostais e as famílias destruídas pelo álcool e pela metanfetamina —enfim, os brancos apartados do sonho americano.

"Faço parte dessa classe baixa. Na cidade do meu pai só havia uma cadeia. Entendo essas pessoas", disse LaBeouf. "A minha pesquisa para esse filme foi mais técnica."

Para interpretar Jake, espécie de macho alfa entre os garotos, que tem como gerente a durona Krystal (Riley Keough), o ator diz que passou uma semana com um grupo de jovens que também vendia revistas na costa oeste.

"Tinha que entender como entra o dinheiro, qual a hierarquia, como eles vendem as coisas, o que faz o gerente, o que está à venda", disse o ator, respondendo às perguntas dos jornalistas com certo ar de enfado. Também participaram da coletiva o restante do elenco -a maior parte jovens sem experiência prévia, muito parecidos com os seus personagens, cheios de piercings, camisetas largas e bonés.

Pelo retrato da juventude e todos os seus códigos próprios, além do desejo de ambientar a trama no universo dos Estados Unidos semimiseráveis, o longa de Arnold se assemelha à obra de diretores indie americanos como Larry Clark ("Kids", "O Cheiro da Gente") e Harmony Korine ("Gummo: Vida Sem Destino").

A diretora, contudo, descartou esse tipo de influência. "Não me inspiro nos outros filmes para rodar os meus, eu me imerso no mundo que vou retratar", disse Andrea.

Questionada se não acha anacrônico rodar uma trama sobre jovens que vendem assinaturas de revistas nos dias de hoje, ela riu. "Claro, muitas pessoas não assinam mais, nem eu. Mas o que esses jovens vendem não é bem a revista em si, mas a pessoa que eles são."

MARION COTILLARD

A 69ª edição do Festival de Cannes é marcada pelo pequeno número de diretoras mulheres nos filmes que competem pela Palma de Ouro. Além de Arnold, há apenas outras duas: a alemã Maren Ade, que exibiu na última sexta (15) sua elogiada comédia "Toni Erdmann", e a francesa Nicole Garcia, com o drama de época "Mal de Pierres", mostrado na manhã de domingo (17).

O longa de Garcia talvez seja a mais convencional até agora entre as produções apresentadas na competição: Marion Cotillard interpreta uma mulher levada a casar com um espanhol (Alex Brendamühl) contra a vontade enquanto nutre uma paixão pelo veterano de guerra vivido por Louis Garrel.

Cotillard disse ter aceitado o papel porque é diferente dos outros que interpretou. "A personagem vive presa num ambiente que não respeita o que ela realmente quer, mas tem uma grande paixão dentro. Ela tem um instinto animal", disse a atriz francesa.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes


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