Ele quer ganhar o título de diretor do filme de ficção mais longo da história. E não teme se a reboque também levar o de filme mais entediante.
O plano do videoartista sueco Anders Weberg, 48, é rodar um longa com 720 horas de duração. O diretor espera estrear o projeto, chamado "Ambiancé", em 2020. Há duas semanas, ele lançou um trailer na internet (no site thelongestfilm.com ). São sete horas e 20 minutos de um plano só: dois sujeitos interagindo numa fria praia pedregosa.
Em gestos plásticos, os dois se entrelaçam num longo manto, acendem uma fogueira, carregam baldes. Às vezes somem. Reaparecem. A trilha sonora solene incrementa o tom onírico do vídeo, metáfora sobre "vida, busca, poder, morte, fuga, descanso, amor", como sustenta o realizador.
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| Os atores Stina Pehrsdotter e Niclas Hallberg em cena do filme 'Ambiancé', do sueco Anders Weberg |
À Folha, Weberg afirma que o filme é uma observação sobre os tempos atuais, em que tudo tem de ser "o mais rápido e eficiente possível".
O artista já dirigiu videoclipes e desenvolveu trabalhos em sistemas P2P (distribuindo vídeos de computador em computador por meio de downloads). Hoje vive numa fazenda no interior da Suécia, onde "parece que tudo parou no tempo". Não longe dali está a prainha que aparece no trailer de sete horas.
O local não foi escolhido ao acaso. É nessa praia que Ingmar Bergman (1918-2007) rodou a antológica cena do jogo de xadrez entre o cavaleiro e a morte de "O Sétimo Selo" (1957). "Nós suecos temos alguma relação com Bergman, boa ou ruim", diz Weberg. "E eu e Bergam gostamos de usar o numeral sete."
O diretor trabalha sozinho para realizar "Ambiancé" e acredita que o filme será não apenas sua última obra em vídeo, mas que terá apenas uma exibição, sendo depois apagado. A única certeza sobre a sessão da epopeia fílmica é que ela não será on-line, "para não ser armazenada", diz.
Embora ousado, o experimento não é lá tão novidade. Em 1964, Andy Warhol (1928""1987) mostrou seu "Empire", sequência de oito horas, em câmera lenta, do edifício Empire State, em Nova York.
As obras do filipino Lav Diaz, querido dos festivais, não costumam ter menos do que seis horas –a última, "Hele Sa Hiwagang Hapis", soma oito horas e cinco minutos.
Mas vem da Suécia de Weberg o atual filme mais longo do mundo: "Logistics" (2012), de Erika Magnusson e Daniel Andersson, documentário que acompanha, na ordem inversa, a produção de um podômetro, recuando até sua fabricação na China. Dura 857 horas.
Trailer de "Hele Sa Hiwagang Hapis"
Sua primeira exibição aconteceu ao longo de 37 dias num centro cultural de Estocolmo.
"O deles é o filme mais longo que existe atualmente", diz Weberg. "O meu será o mais longo que não existe."