Folha de S. Paulo


Fora da Carreta Furacão, dançarinos fazem bicos e cursam ensino médio

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Quando não estão requebrando as cadeiras, os dançarinos da Carreta Furacão são garotos franzinos, de pele morena e olhos tímidos, que cursam o ensino médio e mostram desconforto longe do anonimato das máscaras e fantasias puídas.

O porta-voz do grupo não permitiu que suas identidades fossem reveladas na reportagem, porque, afirma ele, "saber quem são tira a magia dos personagens".

Fofão, 18, usa aparelho dental, tem piercing no nariz, é introvertido e torce para o São Paulo. Não votou na última eleição e diz não saber como se posicionar sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ele sustenta não ter mágoa de Orival Pessini, criador do personagem que veste, que o impediu de dançar para 250 mil pessoas reunidas na avenida Paulista na manifestação pró-impeachment em abril.

Já Popeye, 18, trabalha como cabeleireiro para complementar a renda familiar. A vida dupla faz sucesso com as "trenzetes", como são chamadas as meninas que xavecam os dançarinos. "Dão em cima de mim sem ver se minha cara vale a pena", ri ele.

Palhaço, 20, é louvado pelos amigos como um jogador habilidoso nas peladas da turma. Ele ajuda o pai na área da construção civil e reuniu a família para ver sua primeira participação no programa de TV "Pânico na Band".

Mickey, 18, fala, orgulhoso, da vez em que quebrou uma costela, mas continuou dançando. Em paralelo, dedica-se à carreira hospitalar como técnico de radiologia. Quer cursar a faculdade e usa o trenzinho como ferramenta pedagógica com crianças pequenas. "Se fizer bagunça, falo que 'vou contar para o moço do trenzinho'."

Capitão América não viu o filme mais recente de seu homônimo. Sonha com um futuro melhor, mas não sabe dizer como ele se parece.

No presente, vangloria-se de seus ousados saltos mortais. Na contramão de seus colegas, não dá muita bola para o molejo do axé. "Foco é o pagode."

ESSÊNCIA BRASILEIRA

Dias antes da aprovação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que ocorreu em 17 de abril, o Movimento Brasil Livre lançou uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar R$ 15 mil e contratar a Carreta Furacão para a "dança da vitória" na avenida Paulista.

Um dos líderes do movimento, o colunista da Folha Kim Kataguiri riu ao ser perguntado por que é fã do grupo. "De certa maneira, ele representa a essência do Brasil, é uma coisa descontraída", afirma.

Quem não gostou foi Orival Pessini, criador do Fofão, que ameaçou processar a Carreta. Por "respeito" a Pessini, o Fofão da Carreta ficou em casa.


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