Folha de S. Paulo


Em show solo, Steven Tyler canta para tiozões e mantém safadeza adestrada

Steven Tyler compara a indústria musical ao "Mágico de Oz". "As gravadoras são o homem de lata sem coração, e o espantalho sem cérebro sem dúvida sou eu."

Cita Albert Einstein: "O conhecimento jamais substituirá a imaginação".

Com "Piece of My Heart", homenageia Janis Joplin, a cantora que queria ser quando crescesse, como revelou à sua mãe na juventude.

As referências pululam, mas está claro que na noite de segunda-feira (2) do Lincoln Center, em Nova York, só coube um protagonista.

Roqueiro que se reinventou para novas gerações como jurado do "American Idol", Tyler reveza no palco novidades da sua fase country com hits do Aerosmith, que volta ao Brasil em outubro, com shows em São Paulo, Recife e Porto Alegre.

Pode ser a última chance de vê-los: o próprio quinteto alimenta boatos sobre subir os créditos numa história de 46 anos tocando juntos (todos são da formação original).

O guitarrista Brad Whitford confirmou conversas sobre uma turnê de despedida para "dizer 'muito obrigado' e dar um fim a isso elegantemente".

Enquanto o Aerosmith está indo, Tyler está voltando. O show em Manhattan serviu para promover sua carreira solo (lançará álbum com notas de country no meio do ano) e seu projeto beneficente.

Acompanhado do Loving Mary, sexteto de Nashville que agasalhou seu rock com ritmos mais sulistas, apresentou a balada "Only Heaven" e a patriótica "Red, White & You" –sobre o 4 de Julho (independência dos EUA) e "garotas americanas fazendo sonhos se tornarem realidade".

Meninas que viveram pesadelos são alvo do Fundo da Janie, seu projeto de apoio a vítimas de abuso sexual. Um leilão antes do show levantava recursos para a causa.

Duas das ofertas: um fim de semana de "luxo interminável" em seu resort particular na ilha de Maui (US$ 20 mil o lance inicial) ou o microfone coberto de confetes que usou no Superbowl (US$ 5.000).

"Janie tem uma arma e agora ela tem um fundo", afirmou. A inspiração óbvia: "Janie's Got a Gun", sobre uma garota que "põe uma bala no cérebro" do pai molestador.

Tyler conta que escreveu sua letra mais politizada durante uma "rehab" (nos anos 1980, viciado em cocaína, chegou a pesar 57 quilos). Lá percebeu que muitas das abusadas se voltam às drogas, diz.

Na plateia estão três filhas: a atriz Liv, a modelo Mia e a cantora Chelsea. Bruce Willis, pai de Liv em "Armageddon", sorri quando Tyler canta uma música do filme de 1998, "I Don't Wanna Miss a Thing".

Vestindo um jeans que poderia ter emprestado a Kate Moss ou Iggy Pop, com colete de couro por cima da bata e unhas pintadas de preto, Tyler lembra um misto da tia que vende miçangas e um figurante de "Piratas do Caribe".

Mantém uma safadeza adestrada para uma plateia de tiozões endinheirados. Brinca que, se o paraíso nos for negado, "que tenhamos tanta diversão no inferno quanto tivemos tentando chegar lá".

Aparentemente, o inferno são os flashes. Cansado de fotos, implora: "Deixem seus telefones para lá". Em vão.


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