Folha de S. Paulo


Artista polonês revê representação dos gays nas artes e na imprensa

Num dia em que o forte calor sufocava São Paulo, Karol Radziszewski suava na praça Roosevelt, esperando para rodar uma cena de seu filme. "Ainda bem que não estou usando maquiagem", dizia o artista polonês, também preocupado em não amassar sua imaculada camisa branca. "É que a Marina está sempre tão limpinha, mesmo que sejam cinco da amanhã na Amazônia, ela está toda de Armani."

Marina, no caso, é a sérvia Abramovic, maior celebridade entre artistas, conhecida como a avó da performance.

No filme que está criando no Brasil, Radziszewski assume essa personalidade de diva inabalável para explorar a história de como homossexuais são retratados na imprensa e nas artes visuais do país, contrastando com o ar zen da performer e sua fixação por experiências místicas.

Fred Mauro/Divulgação
Cena de novo filme do artista polonês Karol Raziszewski
Cena de novo filme do artista polonês Karol Raziszewski

Ele aparece meditando, ou fingindo meditar, numa rua movimentada do centro e no viaduto sobre a Radial Leste, entre outros pontos raivosos da cidade. Essas cenas são intercaladas com a visão de um homem negro dançando com adereços do candomblé, que virou obsessão para o artista.

Enquanto não fica pronto o filme, Radziszewski mostra agora no Galpão Videobrasil o ponto de partida desse trabalho –uma imensa reunião de revistas, fotografias e artigos que retratam a vida homossexual do Brasil e da Polônia.

"Tanto o Brasil quanto a Polônia estão fodidos", diz o artista. "Precisava mostrar isso."

Na mostra estão desde publicações como "Lampião da Esquina", criada por jornalistas gays em plena ditadura, a registros da grande imprensa, como as revistas "Veja" e "Manchete", com artigos sobre a epidemia da Aids.

Recortes da imprensa mostram personalidades como os cantores Angela Ro Ro e Ney Matogrosso ao lado de reproduções de obras de Pierre Verger e Alair Gomes, pilares do registro homoerótico no país.

Também estão ali as primeiras publicações polonesas e de outros países do Leste Europeu para o público homossexual. Radziszewski conta que nos lugares antes dominados pelo regime soviético essas revistas só apareceram na época da crise da Aids, muito mais tarde do que quando surgiram no Brasil.

"Estou tentando construir uma história em paralelo à história oficial", diz o artista. "Ainda estamos lutando e sofrendo, em especial nos países que estão reconstruindo sua história, que é o caso do bloco soviético. A história é escrita e apagada de muitas formas. Não é uma operação nostálgica. Estou interessado em influenciar o futuro, mexer com a maneira em que os livros ainda serão escritos."

KAROL RADZISZEWSKI

QUANDO de ter. a sex., das 12h às 18h; sáb., 11h às 17h; até 11/6

ONDE Galpão Videobrasil, av. Imperatriz Leopoldina, 1.150, tel. (11) 3645-0516

QUANTO grátis


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