Folha de S. Paulo


Cruzeiro fashionista avaliado em R$ 6 milhões leva grifes a festa em alto-mar

"Esse negócio tá um babado." Era cedo da manhã quando um fashionista entrou no quarto de uma amiga para contar com detalhes, e em alto e bom som, como laçou um marinheiro italiano num dos corredores da proa do navio atracado em Búzios (RJ).

O "babado" rolava no transatlântico MSC Splendida, onde aconteceu, entre os dias 1º e 4 deste mês, o Chilli Beans Fashion Cruise. Os 333 m da embarcação, cujo roteiro incluía, além de Búzios, uma parada em Ilhabela, no litoral de São Paulo, foram tomados por festas, comilança e desfiles em madrugadas de música eletrônica.

Patrocinada pela marca brasileira de óculos escuros que batiza o evento, essa "temporada" de desfiles é a plataforma que mais se aproxima do conceito de "cruise" no país.

Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress
Desfile da grife Amapô durante o Chilli Beans Fashion Cruise - Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Desfile da grife Amapô durante o Chilli Beans Fashion Cruise

"Cruzeiro" em inglês, o termo é usado para definir coleções intermediárias desfiladas por marcas de luxo em eventos privados e fora das semanas de moda convencionais. O da Chanel, em maio próximo, será em Cuba. O da Louis Vuitton, no mesmo mês, no MAC de Niterói (RJ).

A maioria dos 11 desfiles da versão brasileira da "semana cruise" aconteceu numa das piscinas do navio, coberta de boias de plástico colorido.

Enquanto modelos desfilavam grifes como Blue Man, Ellus 2nd Floor e Coca-Cola Jeans, curiosos sem camisa e garotas de biquíni passavam para espiar o fervo.

Voltado para profissionais do mercado fashion, estudantes de moda e funcionários da Chilli Beans, a festança reuniu quase 4 mil pessoas, que se revezavam entre os bares espalhados pelas piscinas e as enormes filas do "bandejão" com mesas lotadas de pizza, hambúrgeres e toda sorte de comida rápida.

Quem não queria ouvir o batidão, tinha à disposição uma série de atividades. Afora as aulas de moda, houve quem apostasse a sorte em máquinas caça-níqueis do cassino ou parasse para tirar "selfies" nas escadas do salão principal, todas forradas com cristais da marca austríaca Swarovski. Riqueza pura.

Tudo no navio, aliás, é precificado em dólar. Os passageiros acompanhavam a comida com água e café grátis para não bancar os US$ 4,60 (R$ 16) cobrados pelo chope ou os US$ 7 (R$ 26) pelo drinque Lagoa Azul, uma mistura de licor de casca de laranja e vodka que fez sucesso entre os passageiros com algum limite no cartão de crédito.

A festança custou R$ 6 milhões ao empresário Caito Maia, dono da Chilli Beans, que bancou todos os custos –menos as bebidas, claro– para 1.500 convidados. As outras 2.500 pessoas desembolsaram quase R$ 2 mil pelo ingresso "all inclusive", tudo incluso, no jargão do turismo.

Para se ter uma ideia, o valor investido no cruzeiro é quase metade do investimento total da próxima São Paulo Fashion Week, que começa no próximo domingo (24).

"Precisa mesmo ser um louco para fazer isso", diz Maia. "Acho que [o "fashion cruise"] é o único evento do mundo onde as pessoas podem ver um desfile, assistir a uma palestra de alguém legal da moda e, depois, comer ao lado de uma modelo no restaurante. É uma loucura."

De "loucuras", bem planejadas, Caito Maia está calejado. Foi ele quem parou a semana de moda paulistana em abril de 2015 quando levou ao evento o roqueiro Iggy Pop apenas para quebrar um par de óculos gigantes. A ação divulgava uma linha da marca.

O empresário ainda aproveitou seu cruzeiro para lançar a primeira coleção de roupas da Chilli Beans e realizar a convenção anual da empresa, chamada Superdose.

Vendedores e gerentes entupiram o teatro do navio para gritar as palavras de ordem ditas pelo chefe como estímulo aos funcionários. Cada um teve de competir entre os colegas para superar uma meta de vendas e, assim, conseguir uma vaga no navio.

"Esse ano vamos baixar o preço de todos os óculos para menos de R$ 200", gritou o empresário. "Yeaaaahhh", respondeu a plateia em uma catarse coletiva.


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