Folha de S. Paulo


Minas Trend Preview revê moda festa brasileira para tentar fugir da crise

A imagem de moda festa com brilhos e bordados extravagantes sempre acompanhou as marcas mineiras de moda, responsáveis por vestir o que se entende por tapete vermelho nacional: formatura, casamento e baile de debutante.

No último Minas Trend Preview, evento que marca o início da temporada nacional de desfiles, a pecha de "cafona" e sem valor de moda que data dos anos 1980 ficou para trás.

Os desfiles no início do mês, em Belo Horizonte, remontam a um tempo em que a cidade, ao lado do Rio, era um dos maiores polos de moda autoral do país. Grifes como a dos estilistas Fabiana Milazzo, Lucas Magalhães e Sônia Pinto limparam da passarela os brocados e as aplicações de brilho para apresentar um estilo casual, ou "casual chic", como preferem.

Não se trata de abolir por completo o capital criativo da moda mineira. As rendas, os tules e os bordados ainda são uma constante tanto nos desfiles quanto nos estandes da feira de negócios que ocorre em paralelo a eles e é uma das mais importantes do país.

Mas o que quer a Federação das Indústrias de Minas Gerais, organizadora do evento, com a seleção de marcas da passarela, é consagrar a mistura de trabalho artesanal, típico da moda mineira, com as tendências globais.

Fabiana Milazzo, por exemplo, apresentou uma bem engendrada combinação de grunge e romantismo numa coleção de peças leves, a maioria em seda, material base dos padrões dos vestidos.

O investimento em imagem também reposiciona Milazzo na elite da moda. Isabeli Fontana e Carol Ribeiro desfilaram para a estilista, em looks de festa quase desprentesiosos a não ser pelo intenso trabalho de manufatura.

Mais jovem e focada na cliente sem afetação foi a Viva, marca da Vivaz, reconhecida pela moda festa fulgurante e quase "over" para os padrões de estilistas como os da São Paulo Fashion Week.

A consultoria de Giovanni Frasson ajudou a marca a criar vestidos de silhueta ajustada na cintura, estampas digitais aquareladas e tecidos dupla face, nova febre entre os estilistas de Minas Gerais.

Chamou a atenção também o trabalho em tricô, base de boa parte da moda mineira, do estilista Lucas Magalhães. O jogo de cores contrastantes aplicados em looks com estampas gráficas eleva o trabalho do estilista a um patamar acima da média mineira.

Mas quem brilhou foi Sônia Pinto, estilista responsável pelo guarda-roupa de gente como a artista sérvia Marina Abramovic. A inspiração no japonismo remete ao tempo do Grupo Mineiro de Moda, quando dez marcas e estilistas, incluindo Pinto, promoveram a moda local com um claro apelo à estética oriental.

A plateia ovacionou o retorno de Pinto, que misturou tules bordados a tecidos importados do Japão para conceber os vestidões pretos que fizeram sua fama. Desestruturadas, as roupas se descolam do consumidor comum –há peças sem gênero e amplas demais–, mas representam um contraponto necessário à moda nacional.

Do ponto de vista do mercado, motor do Minas Trend, o varejo de moda está tentando driblar a crise de vendas com novas linhas, mais minimalistas e baratas do que a média de R$ 4.000 cobrados pelos vestidos hiperbordados.

As irmãs Marcela e Carolina Malloy, da grife Arte Sacra, diminuíram a margem de lucro das vendas para não perder a clientela. Se o bordado é o carro-chefe, as duas levaram ao mercado opções de bordado fotografado e estampado digitalmente.

O jornalista viajou a convite da Fiemg


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